"O terror necessariamente precisa causar algum choque na pessoa. Pode ser pelo medo, pelo nojo, mas tem que ser algo forte, não pode ser algo morno. Eu acho isso muito legal", brinca o cineasta Flávio Carnielli, de Paulínia, que é um apaixonado pelo gênero. Apesar de garantir que tem um "estômago fraco", este é o gênero que gosta de consumir e produzir, pois sente a necessidade de criar aquele impacto que ele também sente nas obras de outros profissionais. Entre público e crítica, ele vem alcançando resultados marcantes: seus últimos dois curtas-metragens, "Antônia" e "Sugar Dead", foram selecionados para o Festival Internacional de Cine Terror Atacama, no Chile, que acontece entre 9 e 11 de dezembro. E tem mais: são os únicos representantes brasileiros no evento.
Ele explica que apesar de existir um nicho bastante fiel que consome filmes do tipo - do qual faz parte -, é sempre um desafio grande conseguir recursos para produzi-los. "O terror trata de temas sensíveis, pesados, às vezes que são tabu, e precisa ser assim. Ele é terrível, deve ser mesmo. Precisa existir esse diálogo livre", diz. Mas sente orgulho de afirmar que "o cinema brasileiro de terror tem crescido de forma diferenciada, criando outra dimensão" e diversificando as produções nacionais.
No cinema de Flávio, a produção vem de peso da Região Metropolitana de Campinas - SP, que ele faz questão de citar: Helen Quintans é a diretora de fotografia e de arte e figurinista; Hamilton Rosa Jr e Renato Magalhães são os assistentes de direção; a maquiagem é de Lua Tiomi, Júlia Nogueira e Jaqueline Ramirez (responsável por efeitos práticos); montagem e colorização de Elnio Junior e trilha de Nino Fonseca e Guga Lourenço. Entre os nomes do elenco estão Wagner Kampynas, Anne Passos, Violeta Nagai, Ana Flávia, Lolla Tavares, Marcos Zuin, Natália Mariotto, Sílvio Fullin, Victória Oliveira e Amanda Moreira.
O sucesso de "Antônia"
"Antônia" já tem uma trajetória que impressiona: foi exibido em festivais da Holanda, Argentina, Colômbia, Alemanha, Estados Unidos, Bolívia e Espanha, e venceu como melhor curta internacional no Festival 18-55, de San Luis de Potosi, no México. "O 'Antônia' chegou a furar a bolha do terror, de premiações e públicos específicos e começou a chegar em outros lugares como o Kinoforum, um dos maiores festivais da América Latina". No denso e melancólico curta de nove minutos, Flávio, que também é o roteirista, conta a história de um casal de idosos que têm de lidar com uma doença devastadora e enterrar seus jovens entes queridos. Não, não é a Covid-19 de 2020, mas a trama trata do surto de varíola no início do século XX. Portanto, por uma coincidência, afinal o filme foi gravado em 2019, ao longo de seu lançamento, um ano depois, a produção estabeleceu uma conexão com o público ao falar sobre a dificuldade em aceitar a morte decorrente de uma doença. Apesar do drama também presente na história, o curta é essencialmente um terror, mas para descobrir o porquê o cineasta convida o público a apreciá-lo gratuitamente na plataforma Itaú Cultural Play ou para os assinantes.
Talvez os mais atentos identifiquem pelo menos uma das locações de "Antônia", afinal teve cenas filmadas no Cemitério da Saudade, em Campinas. Também foi rodado em um parque no distrito de Sousas e em propriedades particulares em Indaiatuba e Cordeirópolis. "Existe um trabalho estético bastante elaborado no curta. Ele foi filmado em preto e branco e colorido posteriormente quadro a quadro, como se fosse uma fotografia antiga", detalha. O visual também tem o efeito de imagem que foi estragada pelo tempo, indo ao encontro da narrativa que fala do apodrecimento das pessoas diante da doença e da sua relação com a fé. "E que faz parte da vida", aponta Flávio.
Sugar Dead" e o terror satírico
"Eu gosto de fazer o que eu gosto de assistir e eu adoro aqueles filmes de terror underground B, o trash", revela Flávio, que encontrou no projeto de "Sugar Dead", de 23 minutos de duração, algo mais próximo da sua preferência. Bem diferente do anterior, este acompanha uma garota que busca um relacionamento com um "sugar daddy", um homem mais velho e bem-sucedido. Para tanto, ela passa por treinamento "coaching" que a ensina como se comportar e recebe, não sem surpresa, o "felizardo": um homem próspero e com idade avançada, mas também morto. Faz parte da política da agência de treinamentos, pois uma vez que não há um número infinito de homens que se encaixem no perfil, as responsáveis decidem ressuscitá-los. Daí vem o trocadilho com o título, que se refere ao "sugar dead" (dead, morto em inglês).
"Foi divertido de fazer e também é de assistir. Se perguntar qual é o meu filme favorito, é ele", aponta o cineasta.
O filme também está disponível para ser assistido no momento, só que esse está no streaming da Box Brazil Play.
Confira o trailer de Sugar Dead:
As informações são do jornal Correio Popular
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