Desde a consagração de Titane em Cannes, na briga pela Palma de Ouro de 2021, em julho, sua protagonista, a jornalista e atriz Agathe Rousselle, encara reações das mais diversas - às vezes, espanto; às vezes, menosprezo; por vezes, ironia. Tem de tudo, menos indiferença, sobre o fato de sua personagem, a assassina Alexia, engravidar de um carro. Até o cineasta italiano Nanni Moretti fez um comentário malicioso com essa premissa do thriller dirigido pela cineasta francesa Julia Ducournau. Thriller que chega ao Brasil diretamente na plataforma Mubi, após exibições na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e no Festival do Rio, onde houve debandada de espectadores em meio a cenas de violência. Foi assim também na Croisette e em San Sebastián. Agathe até já se acostumou.
"Monstros assustam. Este filme é um monstro. Ele é um monstro na medida em que ele é livre. Na ficção, todos os monstros querem ser livres. Eles anseiam pela liberdade. Titane é um grito de liberdade no cinema francês. Um manifesto para que o nosso cinema não seja burguês. Não seja dependente da palavra. Não seja uma redundância da Nouvelle Vague", explica Agathe em entrevista ao Estadão em San Sebastián, na Espanha, onde o longa foi projetado fora de competição. "Aceitar-se monstro é libertador. Entendi isso quando eu vi meu corpo todo transformado para este filme. Já na leitura do roteiro de Julia essa liberdade aparecia."