A rua que acompanha o extenso muro do cemitério era o único caminho para chegar em casa depois de um longo dia de trabalho. E foi nessa rua onde tudo começou, enquanto eu caminhava e olhava para o interior do cemitério e via as figuras disformes que se escondiam atrás dos túmulos, outras se escondiam atrás das árvores secas que enfrentavam o inverno. Por três noites foi assim, espectros atormentados e zombeteiros flertavam comigo durante minha caminhada noturna.
Certo dia, decidi parar para observá-los - grande erro, talvez! Me sentei em um velho banco de madeira que ficava do outro lado da rua, de frente ao muro do cemitério; naquele horário, perto das onze da noite, ninguém transitava por aquela rua de terra úmida, e eu sozinho, naquela noite fria, tinha como companhia - além daqueles espíritos - apenas o som do vento e dos jarros de flores se quebrando ao cair dos túmulos. Eu contemplava as sinistras sombras que vagavam pelo cemitério, algumas se atreviam a se movimentar até o muro, outras mais ousadas vinham de encontro a mim, parando no meio da rua, evitando se aproximar do banco onde eu estava sentado; era como se aquelas figuras tentassem, de alguma forma, se conectar comigo. Nos dois primeiros dias que as vi, acelerei o passo e evitava olhar para elas, mas naquela noite eu não senti medo algum.