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Álvares de Azevedo inaugurou a tradição literária brasileira de terror com o conto "Noite na Taverna". |
Então você mora num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, certo? Pois bem: o trem da nossa história está lotado de artistas que exaltaram e exaltam as alegrias de se viver por aqui. Que também apontaram as tristezas, claro, e muitas vezes com maior intensidade.
O fato é que, de uma forma ou de outra, nossa arte é fortemente marcada por temas realistas, por traços que compõem a nossa identidade nacional. Mas esses temas e traços são, quase sempre, diurnos, vibrantes, coloridos… Enfim, esperançosos — mesmo quando não há pelo que se esperar.
Assim sendo, diante desse cenário ensolarado e tórrido, fica a pergunta: e nós, amantes do reverso disso tudo? Como ficamos? Onde sentamos no trem da nossa história, nós que, sem muito interesse pelo que é do dia, somos fascinados pelo que cabe à noite? Nós que, ao calor do beira-mar, preferimos o frio do beira-abismo? Nós que, indiferentes à vibração de nossas florestas ao sol, amamos a quietude dessas mesmas florestas à lua? Enfim, nós, apaixonados pelo horror sobrenatural, pelo inexplicável, pelo medo artístico? Para onde iríamos?