Mesmo debilitado por uma operação no peito, Juan faz uma longa travessia de carro pela Argentina, junto do filho Gaspar, viajando de Buenos Aires até as Cataratas do Iguaçu, na fronteira entre Brasil e Argentina. Como o momento que vivem é o da ditadura militar que vigorou de 1976 a 1983, o automóvel é parado várias vezes e o clima geral é de grande tensão, pois Juan busca proteger o menino Gaspar de um destino que parece estar traçado. A mãe, Rosário, morreu em circunstâncias misteriosas. E, como o pai, o garoto foi chamado para ser médium em uma sociedade secreta, a Ordem, que, além de secular, é dominada pela poderosa família da mãe de Gaspar. Por meio de rituais atrozes, de onde parte a preocupação paterna, a Ordem busca a vida eterna.
Apenas por esse aspecto, o romance Nossa Parte de Noite (Intrínseca), da escritora argentina Mariana Enriquez, já despertaria atenção, mas, apesar de resvalar por uma narrativa marcada pelo terror (rituais sinistros, sacrifícios bizarros, invocações de demônios, histórias de santos milagreiros e de casas assombradas), o livro se revela um leque de estilos, em que convivem o histórico, o jornalístico e o fantástico.