Caiporas, caretas e papangus trazem mistério ao folclore carnavalesco no interior pernambucano

sexta-feira, 1 de março de 2019

Caiporas, caretas e papangus trazem mistério ao folclore carnavalesco no interior pernambucano


O uso de máscaras é uma das características marcantes do carnaval de Pernambuco, principalmente em blocos tradicionais do interior do estado. Em Pesqueira, há os caiporas; em Triunfo, os caretas; e em Bezerros, os papangus.

De acordo com o pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), César Pereira, a utilização desse adereço tem um objetivo específico. "A finalidade é esconder a identidade do folião, para que possa brincar à vontade sem ser reconhecido", explica.

Caiporas (Pesqueira)


Localizado a 216 quilômetros da capital Recife, o município de Pesqueira tem um nome popular para a festa do Momo: Carnaval dos Caiporas. No folclore brasileiro, caipora era a figura responsável por afastar os caçadores e seus cães das florestas e considerada, assim, protetora dos animais e guardiã das matas.

O bloco existe desde 1962 e vai para a 57ª edição. Os homenageados em 2019 são Sérgio Amaral, dono do bloco Lira da Tarde, e Seu Albino, reconhecido musicista na cidade que faleceu no final de 2018. Neste ano, a apresentação ocorre às 19h do domingo e da terça-feira de carnaval, dias 3 e 5 de março, respectivamente.

Além do saco de estopa, que serve como máscara, a caracterização do personagem conta com paletó, camisa de mangas compridas e calça. A energia observada nos caiporas vem do fato de grande parte dos foliões que se fantasiam do personagem serem crianças ou adolescentes.

Helena Melo, de 76 anos, é a presidente do bloco. O posto foi herdado do marido, João Justino, que faleceu em 2008. O apreço pelo carnaval não era tão alto para ela, que resolveu atender a um pedido do esposo para ficar à frente do bloco.


"Eu não gostava. Fiquei a pedido dele porque é um patrimônio da família, ele não queria entregar a estranhos. Até pedi para repassar para outros interessados, mas ele não quis", conta.

Desde que assumiu, o envolvimento com o bloco apagou a relutância inicial. "Comecei a gostar. A gente viajava muito, fazia trabalhos, e isso era o meu divertimento. Eu fico com a parte de recrutar as crianças, falar com os pais. Também mudei as vestimentas. Mandei fazer buracos nas máscaras, para aliviar o calor. E antes usavam havaianas, hoje é todo mundo de tênis. O período é muito trabalhoso", conta.

Apesar da importância para Pesqueira, não há um espaço na cidade para a preservação da memória dos caiporas.



Caretas (Triunfo-PE)


Os centenários caretas representam a folia na cidade de Triunfo, localizada a 400 quilômetros do Recife. Os mascarados se apresentam às 15h da terça-feira de carnaval, dia 5 de março, com saída pelas ruas do município, acompanhados pela Banda de Frevo Isaías Lima.

A expectativa da organização é de receber entre 130 e 150 mascarados. A homenageada deste ano é Expedita Trindade, que era responsável pela caracterização dos Caretas na cidade antes de morrer.

A historiadora Diana Rodriques Lopes, de 74 anos, participa dos festejos desde pequena. Ela elabora um livro sobre o movimento, com lançamento previsto para ainda este ano, e explica que a origem dos caretas ocorreu no Natal.

“No Sítio Laje, região próxima à Triunfo, havia um reisado. Lá, havia a figura mascarada do Mateus. O grupo do qual ele fazia parte foi para Triunfo a fim de participar de festejos natalinos. Mas, ao chegarem, um deles bebeu muito e foi expulso. Vagando pela cidade fazendo barulho, deu origem aos Caretas”, conta.


Antigamente, mulheres e crianças não podiam participar, pois a brincadeira era exclusiva para homens. Com a criação das trecas, conjuntos de caretas, todo mundo pode participar. As vestimentas são compostas por um grande chapéu e roupas coloridas.

Também não pode faltar na caracterização a tabuleta, que é um pedaço de tábua com chocalhos pendurados na ponta. O barulho do instrumento passa a falsa impressão de que há gado por perto.

"É uma coisa que passa de pais para filhos. Crianças de dois anos já saem como caretas. É uma coisa linda. E esse ano vai ser bem legal. Dez, vinte caretas juntos já é bonito, imagina esse ano, com 150?", questiona Diana, com satisfação.

Nos caretas, cada um organiza a sua própria treca, que funciona como um bloco. Não há um presidente. "Eu sempre fui uma curiosa pela minha terra. Lá em casa, meu pai tinha o costume de me contar lendas, à noite. Sempre de figuras locais. Acabei absorvendo isso. Também participo de tudo aqui, sou uma careta", ressalta.

Os caretas ganham um espaço próprio, com inauguração prevista para o dia 4 de março, a segunda-feira de carnaval, no Alto da Boa Vista. A Casa do Careta conta com uma sala de audiovisual, acervo histórico e espaço para oficinas e para vendas, e permanece aberto após o carnaval.


Papangus (Bezerros)


Em Bezerros, cidade localizada no Agreste pernambucano, a 100 quilômetros do Recife, os papangus são os destaques da folia. A caracterização é feita com máscaras de papel machê e túnicas, sempre bem coloridas. Quando estão fantasiados, mudam até a entonação da voz, pois a ideia é manter-se irreconhecível de todas as formas.

Folclorista e historiador de Bezerros, o professor Ronaldo José Souto Maior, de 78 anos, explica que os papangus surgiram em 1881.

“Eram senhores de engenhos com suas famílias que saíam malvestidos e mascarados para visitar seus amigos e comiam angu, comida à base de milho, típica da região. Ainda há uma outra versão sobre o surgimento do movimento: um grupo de homens que, para brincar o carnaval escondidos das esposas, usavam máscaras”, afirma.


O secretário de Turismo e Cultura de Bezerros, Vando Dias, de 55 anos, tem uma ligação especial com os papangus. "Eu saí nos papangus com meus tios, minhas irmãs. Em Bezerros, quase todo mundo já deve ter saído de papangu", diz.

Quem administra os papangus é a Secretaria de Turismo e Cultura de Bezerros. Não há um presidente ou homenageados específicos. Na cidade, há um espaço dedicado à preservação da história deles: o Museu do Papangu, localizado na antiga estação de trem.

O concurso dos papangus de Bezerros acontece às 9h do dia 3 de março, o domingo de carnaval, na praça centenária da cidade. A premiação total é de R$ 24.800, somando as categorias adulto e infantil, para as fantasias mais criativas.

A categoria adulta conta com as modalidades individual, dupla e em grupo. Na infantil, há a infanto-mirim, até 7 anos, e infanto-juvenil, dos 8 aos 14 anos.


Serviço

Papangus, em Bezerros

Domingo (3), às 9h

Concentração na Praça Centenária da cidade

Aberto ao público


Caiporas, em Pesqueira

Domingo (3) e terça-feira (5), às 19h

Concentração na Praça Dom José Lopes

Aberto ao público


Caretas, em Triunfo

Terça-feira (5), às 15h

Concentração no Alto da Boa Vista

Aberto ao público


Fonte: G1

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