Descubra o ARG criado na web para o filme Rua Cloverfield, 10

terça-feira, 12 de abril de 2016

Descubra o ARG criado na web para o filme Rua Cloverfield, 10


Qual é a relação entre Rua Cloverfield, 10 (o nome em português para 10 Cloverfield Lane), cujo trailer J.J. Abrams revelou logo após receber os louros da direção e bilheteria do Episódio VII de Guerra nas Estrelas, e o filme de Cloverfield, produzido pelo mesmo Abrams em 2008? Além da óbvia repetição de uma palavra no título dos dois filmes e do envolvimento de Abrams em suas realizações, os dois filmes parecem contar partes diferentes de uma mesma história, embora a relação entre elas seja propositalmente vaga.

Mas nem bem sabemos da conexão entre os dois filmes e já corre solta a especulação na internet que já haja um terceiro Cloverfield sendo produzido (e talvez um quarto!), que pode expandir ainda mais o universo do monstro apresentado em 2008. E isso tudo está ligado ao jogo de realidade alternativa lançado pelo filme deste ano, que estreia neste fim de semana nos Estados Unidos e chega aos cinemas brasileiros no dia 7 de abril. Mas antes de falarmos deste terceiro filme, vamos puxar o fio da meada.

O primeiro filme acompanhava uma festa de amigos em Nova York interrompida por um súbito blecaute, seguido de cenas de destruição em larga escala. O filme foi apresentado como um item arquivado pela força militar norte-americana: o registro de uma câmera portátil na hora e meia em que um monstro desconhecido chega à ilha de Manhattan. Filmado todo em primeira pessoa (pelo mesmo T.J. Miller que hoje estrela a série Silicon Valley), Cloverfield acompanha amigos por uma cidade arrasada por um monstro gigantesco que teria saído do Oceano Pacífico rumo a mais uma destruição fictícia de Nova York. Antes de sua estreia, a produção do filme aproveitou-se da popularização da web para espalhar dicas sobre a origem do monstro em diferentes sites, proporcionando uma verdadeira caça ao tesouro online – uma experiência que ficou conhecida na época como jogo de realidade alternativa (ARG, na sigla em inglês).

Rua Cloverfield, 10, como Cloverfield, também teve seu trailer lançado sem nenhum alarde e lida com pessoas acuadas frente a uma ameaça desconhecida. Mas as semelhanças param por aí. Em vez de correndo pela cidade, toda ação do filme (pelo menos a que foi mostrada em seu primeiro trailer) acontece dentro de um bunker subterrâneo, em que um certo Howard Stambler (vivido por John Goodman) mantém dois jovens como reféns ao dizer que tudo que eles conhecem lá fora foi destruído. O trailer, montado numa ordem diferente da cronológica, mostra os três levando uma vida corriqueira dentro do abrigo debaixo da terra até que a personagem Michelle (vivida por Mary Elizabeth Winstead) consegue ir até a porta do bunker e ficar aterrorizada com o que vê do outro lado.

Mas o que ela vê do outro lado? É o monstro do primeiro filme destruindo tudo? São os parasitas desse mesmo monstro atacando as pessoas? Ou é apenas Nova York após o bombardeio nuclear que encerra Cloverfield? O mistério aumentou quando Abrams garantiu que o filme, dirigido pelo novato Dan Trachtenberg, não era uma continuação do filme de 2008, mas um “parente cossanguíneo'' daquele filme. Seria um prequel? Será que o endereço do bunker que batiza o segundo filme conta a origem daquele monstro? Será que o estrondo que eles escutam vindo de cima é o monstro atrás de algo que eles mantém escondido em um tonel de metal? Mas Abrams garantiu que “não é o mesmo monstro'' e que não é uma continuação.

E à medida em que o tempo foi passando outras pistas foram surgindo.

Primeiro o site da Tagruato, a empresa japonesa de mineração submarina que teria dado origem ao monstro do primeiro filme, na primeira versão do jogo, apresentou uma relação de “empregados do mês'' em janeiro que não trazia nada fora do comum.


Mas quando virou o mês e o site mostrou os empregados de fevereiro de 2016, lá estava o mesmo Howard Stambler que aprisiona os dois jovens no bunker do segundo filme.


Sob sua foto, uma descrição:


Howard celebrará seu sétimo aniversário na Bold Futura no outono. Neste mês, o ímpeto, o compromisso e a recusa em aceitar respostas fáceis de Howard resultaram em um avanço importante ao diagnosticar complicações de transmissão entre satélites em órbita de dois nossos clientes governamentais.

Mas antes de falarmos em espaço, repararam na camiseta que Howard está vestindo? Descobriram um site Radioman70.com que redireciona a navegação para outro site, o aparentemente inofensivo Fun and Pretty Things que Howard usa para conversar com sua filha de forma privada.


Entre imagens fofinhas e coloridas de bichos e doces há uma foto de Molly Rigwald em frente a um computador em uma cena de A Garota de Rosa Shocking que aponta para um link – fechado. Quando clicamos neste link uma caixa de mensagens pede que se digite uma frase para acessar aquele conteúdo:


A frase é “Do You Want to Talk?'', que destrava uma série de conversas entre Howard e sua filha Megan a respeito de um desastre iminente e como ela pode se prevenir em relação a isso. Durante todo o mês de fevereiro novas informações foram sendo colocadas neste site, como links para guias de sobrevivência e a localização de dois abrigos subterrâneos que podem ser utilizados. Enquanto isso o primeiro trailer do filme foi apresentado nas sessões de Deadpool, trazendo imagens que piscavam subitamente na tela, como mensagens subliminares. Alguns fãs registraram essas imagens no próprio cinema.


Os trailers foram parar no YouTube e os fãs conseguiram isolar as seguintes imagens, em melhor resolução:


Em comum apenas o tema da marinha e alguns números à vista. Ao serem tratadas, as imagens revelaram palavras escondidas:


Organizados na ordem alfabética sugerida pelas fotos, os números eram uma coordenada geográfica: 30.675689, -90.125742. Que apontava para cá:













                                                                                                          Um fã foi para este lugar, próximo a Nova Orleans, e desenterrou uma caixa que tinha dois pendrives, confira:                                                                                                                                                    


Em ambos os pendrives, havia uma mensagem que Howard teria captado da Estação Espacial Internacional.



Esta nova caça ao tesouro ainda contou com um faqueiro à venda pelo site de classificados Craigslist que levava à ex-mulher de Howard, Denise, revelava que seu ex-marido, que já tinha sido da marinha norte-americana, é um paranoico e já havia cogitado estes desastres em outras oportunidades, sem que nada acontecesse. Também há inúmeras referências a Paris e à Torre Eiffel, além de um celular encontrado numa caixa de depósito em um aeroporto (com uma mensagem de voz na caixa postal), e diferentes cenas acrescentadas ao trailer originais em comerciais do filme feitos para a TV. Há também um simulador online de sobrevivência em um bunker (que pode ser acessado e jogado neste link). Até conseguiram colocar o trailer na ordem correta, incluindo as cenas que não haviam entrado na primeira edição!



Há muitos outros desdobramentos desse jogo no blog Cloverfield Clues, que existia desde o primeiro filme e voltou a funcionar este ano (de onde tirei algumas imagens deste post). A essa altura já havia dado para entender que Rua Cloverfield, 10 teria características específicas suas e não voltaria ao estilo câmera-na-mão no meio de uma cidade destruída do primeiro filme. Em uma entrevista dada por J.J. Abrams ao site da revista Entertainment Weekly o produtor revelava que o novo filme não era literalmente Cloverfield 2:

“Há um monstro neste filme. Não é o monstro que você espera, mas há um monstro. O que posso dizer para qualquer um que vá assistir a esse filme esperando ver literalmente Cloverfield 2 é aqueles personagens e aquele monstro não estarão neste filme. São outros personagens e outros monstros.''

Mas, mais importante, é o fato de que ele ter dito que a história não terminaria aí:

“Isso é só esse filme, mas são apenas dois filmes que estamos falando agora. Há algo mais que estamos tentando fazer e que faremos se tivermos a oportunidade.''

E é aí que a referencia à Estação Espacial Internacional conecta-se com outra coisa. A produtora de J.J., Bad Robot, está envolvida com outros dois filmes: Collider, um filme de grande orçamento que seria dirigido por Edgar Wright (o diretor de Scott Pilgrim que quase dirigiu o Homem Formiga da Marvel e lançou a carreira da dupla Simon Pegg e Nick Frost no cinema), e um filme menor chamado God Particle, que foi anunciado em 2012 e, segundo o blog Vulture seria sobre o seguinte assunto:

“Depois de um experimento de física com o grande acelerador de partículas faz a Terra desaparecer completamente, a aterrorizada equipe de uma estação espacial em órbita é abandonada flutuando no espaço ainda mais vazio. Quando uma espaçonave europeia aparece no radar, os americanos devem determinar se é sua salvação ou o início do fim.''

Descrições mais recentes deste filme, que está previsto para estrear no início do ano que vem, falam em “astronautas que fazem uma descoberta que desafia tudo que eles conhecem sobre o tecido da realidade, mesmo enquanto eles lutam desesperadamente por sua sobrevivência.'' O filme também vai ser dirigido por um novato, o nigeriano Julian Onah, que dirige seu primeiro longa.

Será que é um filme sobre o universo Cloverfield do ponto de vista do espaço? Não custa lembrar que uma das últimas cenas do primeiro filme mostram o casal protagonista passeando no parque de diversões de Coney Island – pois a gravação da aparição do monstro foi feita em cima de uma outra gravação, do casal de férias – e observadores mais detalhistas perceberam que algo cai no oceano quando eles estão no alto da roda gigante. Muitos especulam que o monstro do primeiro filme teria vindo do espaço e teria sido despertado pelas perfurações da empresa Tagruato.

Ou seja… Cloverfield 3? No espaço?

Isso se o filme Collider não for sobre o acidente que deu origem ao problema que os astronautas encontram na Estação Espacial. Nas descrições mais recentes do filme não há nenhuma referência ao megacolisor que teria dado origem à “descoberta que desafia tudo que se conhece sobre o tecido da realidade''. Cloverfield…4?

O que talvez seja mais provável é que estejamos assistindo à construção de um universo fictício inteiro sem uma ordem linear, sem protagonistas pré-definidos, sem sabermos qual história está sendo contada. Se for isso mesmo, J.J. Abrams vai subindo mais degraus rumo ao topo do showbusiness mundial desafiando regras e tendências pré-estabelecidas. E voltando a se arriscar – diferente de sua aposta ao iniciar mais uma trilogia de Guerra nas Estrelas.


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