O cientista britânico Stephen Hawking morreu nesta quarta-feira (14) aos 76 anos em sua residência, na cidade inglesa de Cambridge. Sua família enviou uma declaração oficial à imprensa confirmando a morte do físico e cosmólogo. Lucy, Robert e Tim, seus filhos, afirmaram que Hawking era "um grande cientista e um homem extraordinário cujo trabalho e legado viverão por muitos anos".
Considerada uma das mentes mais brilhantes da história da ciência, ele fez grandes contribuições à comunidade científica, com teorias como a do espaço-tempo e do funcionamento dos buracos negros, a partir das quais conseguiu aproximar o público de temas que poderiam parecer complexos para muitos.
Há décadas convivia com esclerose lateral amiotrófica, doença responsável por paralisar os músculos do corpo, mas que não comprometeu suas funções cerebrais.
Hawking morreu no mesmo dia do nascimento de Albert Einstein. Einstein, pai da teoria da relatividade, nasceu em 14 de março de 1879, em Ulm, na Alemanha. Outra coincidência está na data de nascimento de Hawking, em 8 de janeiro de 1942, 300 anos depois da morte de Galileu Galilei, pai da ciência moderna. Hawking realizou seu trabalho acadêmico nas universidades britânicas de Oxford e Cambridge. Autor de best-sellers como Uma Breve História do Tempo e O Universo numa Casca de Noz, o cientista foi responsável por popularizar a física teórica para um público leigo.
Obra de Stephen se transformou imediatamente num best seller por fazer que temas de difícil compreensão fossem compreendidos pelo público leigo. No clássico do cinema "Donnie Darko", passagens do livro são usadas para discutir a possibilidade de viagens no tempo. |
Viagem no tempo
Em artigo escrito para o Daily Mail em 2010, Hawking revelou que, por muito tempo, evitou falar sobre viagem no tempo por receio de ser rotulado de louco. Mas com o passar dos anos, deixou essa abordagem de lado.
“Eu sou obcecado com o tempo. Se eu tivesse uma máquina do tempo, eu visitaria Marilyn Monroe em seus dias de glória ou iria atrás de Galileu enquanto ele construía seu telescópio. Talvez eu até viajasse para o fim do universo para descobrir como a nossa histórica cósmica termina”, escreveu.
O físico seguia a ideia proposta por Einstein de que o tempo era uma das quatro dimensões que conseguimos perceber no Universo — como a largura, a profundidade e o comprimento. “Tudo tem um comprimento no tempo, bem como no espaço”, explicou. Logo, viajar no tempo seria viajar pela quarta dimensão, uma espécie de portal com o nome de “buraco de minhoca”.
“Os buracos de minhoca estão por toda parte do nosso redor, mas eles são muito pequenos para que consigamos vê-los. Eles ocorrem em fendas e cantos do espaço e do tempo. Alguns cientistas acreditam que talvez seja possível aumentá-los o suficiente para que humanos ou naves espaciais possam utilizá-los.”
Cientista decorou salão de universidade com balões, preparou aperitivos e sua bebida preferida; sua intenção era testar as viagens no tempo. |
O dia em que Stephen Hawking organizou uma festa para viajantes do tempo e ninguém foi
Em 28 de junho de 2009, às 12h, Stephen Hawking se posicionou em frente à porta de entrada de um elegante salão da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e esperou.
O lugar tinha sido decorado com balões, e a mesa central estava forrada de aperitivos e, claro, champanhe, a bebida favorita do famoso físico britânico.
Hawking, que morreu nesta quarta-feira, aos 76 anos, permaneceu ali, esperando, sem tirar os olhos da porta fechada.
Mas ninguém entrou.
"Que lástima!", exclamou o cientista no capítulo "Viagem no tempo" da série documental Into the Universe with Stephen Hawking (O Universo Segundo Stephen Hawking), da rede de televisão Discovery, transmitido em 2010.
E aquela festa não era como qualquer outra: era um evento para viajantes do tempo.
"Eu gosto de experiências simples e... champanhe. Então, combinei duas das minhas coisas favoritas para ver se a viagem no tempo do futuro para o passado é possível", explicou Hawking no documentário.
Para testar a ideia, o físico não contou a ninguém sobre a festa até que ela tivesse acabado.
Só então ele enviou o convite, que incluia as coordenadas exatas no tempo e espaço da cerimônia, organizada na escola tradicional escola Gonville and Caius de Cambridge.
"Você está cordialmente convidado ao evento para viajantes do tempo organizado pelo professor Stephen Hawking", dizia o texto, que também incluia a irônica explicação de que não era necessário confirmar presença.
"Espero que cópias deste (convite) sobrevivam por vários milhares de anos em um formato ou outro", acrescenta o pesquisador, cujo livro Uma Breve História do Tempo, de 1988, vendeu mais de 10 milhões de cópias no mundo.
Ele continua: "Talvez, algum dia, alguém que viva no futuro encontrará a informação e usará uma máquina do tempo para vir à minha festa, provando que, um dia, as viagens no tempo serão possíveis".
Ao ver que o relógio passou das 12h e ninguém entrou em sua festa, Hawking coloca em prática seu famoso senso de humor e diz: "Eu esperava que a futura Miss Universo abriria a porta".
Anos depois, o físico explicou em um simpósio no Festival da Ciência de Seattle, nos Estados Unidos, que "a teoria da relatividade geral de (Albert) Einstein parece oferecer a possibilidade de que possamos deformar o espaço-tempo de tal forma que poderíamos viajar ao passado ".
"No entanto, é provável que tal deformação causasse um raio de radiação que destruísse a nave espacial e talvez o espaço-tempo em si", acrescentou ele nesse evento de 2012.
Então, ele falou sobre sua festa fracassada para viajantes do tempo e disse: "Fiquei ali muito tempo esperando, mas ninguém veio".
Buracos de minhoca são atalhos hipotéticos pelo espaço-tempo, também conhecidos como pontes de Einstein-Rosen, assim chamados em homenagem a Albert Einstein e Nathan Rosen, que os previram em 1935. |
As três formas de viajar no tempo
De acordo com o astrofísico a primeira forma de fazer a viagem seria por um buraco de minhoca, um conceito da física teórica que representa, quanticamente, um ponto no espaço-tempo que se conecta a outro, o que poderia ser um túnel entre dois pontos distantes no tempo. Se pudéssemos entrar em um buraco de minhoca, poderíamos criar um túnel entre dois pontos do espaço-tempo.
A segunda, que só permitiria viajar em direção ao futuro, seria se aproximando de um buraco negro, capaz de desacelerar o tempo de forma dramática e, depois, retornando à Terra, onde o tempo teria transcorrido com normalidade.
Por último, o cientista propõe que a alternativa mais viável para se construir uma máquina do tempo seria conseguir construir uma capaz de se mover ao redor da Terra à velocidade da luz, o que permitiria que a vida dos seus passageiros a bordo passasse sete mil vezes mais rapidamente que na Terra, permitindo um deslocamento em direção ao futuro.
O veículo tripulado mais rápido da história foi Apollo 10. Chegou a 25,000 mph. Mas para viajar no tempo, teremos que ir mais de 2.000 vezes mais rápido. E para fazer isso precisamos de uma nave muito maior, uma máquina verdadeiramente enorme. A máquina teria que ser grande o suficiente para transportar uma enorme quantidade de combustível, o suficiente para acelerá-lo para quase a velocidade da luz. Chegar apenas abaixo do limite de velocidade cósmica exigiria seis anos inteiros em plena potência.
A aceleração inicial seria lenta porque o veículo seria muito grande e pesado. Mas, gradualmente, aumentaria a velocidade e logo estaria cobrindo distâncias maciças. Em uma semana, teria atingido os planetas externos. Após dois anos, alcançaria a velocidade da meia luz e ficaria longe do nosso sistema solar. Dois anos depois, viajaria a 90% da velocidade da luz. Cerca de 30 trilhões de quilômetros da Terra, e quatro anos após o lançamento, o navio começaria a viajar a tempo. Por cada hora de tempo no navio, dois passariam na Terra. Uma situação semelhante à nave espacial que orbitava o enorme buraco negro.
Depois de mais dois anos de impulso total, a máquina alcançaria sua velocidade máxima, 99% da velocidade da luz. A essa velocidade, um único dia a bordo é um ano inteiro do tempo terrestre. Nossa nave estaria realmente voando para o futuro.
A desaceleração do tempo tem outro benefício. Isso significa que poderíamos, em teoria, viajar distâncias extraordinárias dentro de uma vida. Uma viagem ao limite da galáxia levaria apenas 80 nos. Mas a verdadeira maravilha da nossa jornada é que revela o quão estranho é o universo. É um universo onde o tempo corre de maneiras diferentes em diferentes lugares. Onde existem pequenos buracos de minhoca ao nosso redor. E, em última análise, podemos usar nossa compreensão da física para nos tornar verdadeiros viajantes pela quarta dimensão.
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