A Maldição da Quarta-Feira de Cinzas

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

A Maldição da Quarta-Feira de Cinzas


Hoje é Quarta-Feira de Cinzas, por ser uma data considerada sagrada, existe uma antiga lenda que diz que quem celebrar o Carnaval após a meia-noite da terça-feira, pode ser punido, é com base nessa lenda urbana que o relato assustador que você irá ler abaixo foi inspirado. 

E nos diz o dito popular: ” O pior cego é o que não quer ver.”

O ano é 1962...Era meio da tarde em uma terça feira de carnaval, e minha avó Maria assim como todas as mães, estava apreensiva com a noite de carnaval, o lança perfume havia sido proibido, mas ainda era usado em segredo pelos jovens daquela época. O que preocupava minha avó que temia pela segurança de meu tio Neno com dezenove anos , a bem da verdade ele não tinha dinheiro para comprar lança perfume, e também nunca utilizou nem quando era liberado , mas ” diga com quem tu andas e digo quem tu és” , ele como todo jovem tinha muitos amigos.

Minhas tias eram adolescentes, podiam reclamar o quanto fosse, mas lhes era permitido somente as matinês das tardes de carnaval e ainda acompanhadas pelo meu tio.

No entanto naquela tarde minha tia Nena, com dezessete anos, pediu ao irmão que a levasse no baile daquela noite, o que ele resistia como se fosse a morte, é claro.

Minha avó observava da cozinha enquanto escolhia feijões para o jantar, para desespero do meu tio, ela os chamou na cozinha e liberou minha tia para o seu primeiro baile de carnaval noturno junto ao irmão, que teria que cuidar da irmã e retornar antes das onze horas da noite.

Sentindo a angústia do meu tio em ter sua liberdade reduzida a pó, pela companhia da irmã, minha avó resolveu achar um bom motivo, para que eles retornassem cedo e por vontade própria do baile e começou...

Ah... Esqueci de lhes avisar hoje é terça feira de carnaval, e diz a lenda que quem insistir ficar nos bailes depois da meia noite, ou seja continuar na folia nas primeiras horas da quarta feira de cinzas, poderá ter o desprazer de encontrar com “Os intrusos ” , que rogam palavras de maldições eternas , e lançam como um perfume pragas , as moças ficam mancas e estéreis, e os rapazes calvos e impotentes.

Meu tio e minha tia olharam minha avó com risinho de canto de boca, dia a dia eles estavam ficando “espertos” em relação as lendas que minha avó contava.

Chegou a noite e foram para o baile, meu tio fantasiado de marinheiro e minha tia de melindrosa. O baile acontecia como todos os anos, foliões dançavam o “ala ô...”, e as demais marchinhas de carnaval, o lança perfume apareceu aqui ou ali, mas de forma discreta, afinal era um baile de bairro e nem todos tinham dinheiro para comprar o spray proibido para a brincadeira. O que eles não contavam é que por volta das dez e quarenta da noite, o tempo que estava muito abafado na ocasião, iria “despencar" em uma enorme tempestade.

Onze e vinte... e nada da tempestade passar. Onze e quarenta e cinco ... e a ventania tomava o bairro todo, começou até a gotejar em um canto e outro do salão, devido a forte chuva. E o baile corria solto, ninguém estava muito interessado no que acontecia do lado de fora, exceto minha tia e meu tio.

Cada segundo do relógio começou ficar angustiante para eles, primeiro que a vó Maria tinha recomendado que retornassem ás onze horas e eles já estavam atrasados, segundo que eles não admitiam , mas ninguém queria ficar careca e nem manco.

Dois minutos para meia noite e a chuva ainda estava bem forte, no entanto meu tio e minha tia resolveram sair do baile, e quando estavam indo rumo a porta,uma paquera do meu tio veio ao seu encontro para se despedir e quando ele olhou no relógio ...meia noite e dois minutos.

Já no caminho para casa, debaixo de chuva mesmo, o silêncio era imperativo, ninguém se olhava e nem falava nada. Minha avó que os aguardava sentada na cozinha, também não disse uma palavra se quer, ela sabia que o atraso era devido a tempestade, e nem se lembrou da lenda que havia contado.

Os anos passaram, e durante uma das nossas festas de família, minha avó compartilhava dessa história com os netos e confirmou; minha tia Nena que agora era mãe de seis filhos, quando voltou da morte naquele mesmo ano ( leia a lenda minha amada tia morta viva), voltou manca e ficou assim por um dia inteiro.

E meu tio, pai de quatro filhos , não sabia mas estava sendo observado naquele momento, por mim, a Vó Maria e meus primos , do canto da sala, enquanto penteava o que lhe restara dos cabelos.

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