Lendas de fantasmas fazem parte da história da capital de Minas Gerais e foram catalogadas no livro "Guia do Morador Belo Horizonte", organizado por Roberto Andrés e Fernanda Regaldo. A capital mineira, tem pouco mais de um século de existência, mas apesar disso coleciona mistérios como poucas outras cidades brasileiras conseguem fazer. O capítulo sobre os seres assustadores, escrito pela professora Heloísa Starling, mostra como as histórias apareceram a partir da destruição do velho Curral del Rey, que deu lugar à construção da futura capital de Minas Gerais, em 1897.
O Fantasma da Loira do Bonfim
Uma dessas narrativas tem ligação com o cemitério do Nosso Senhor do Bonfim (ilustração), situado no bairro do mesmo nome e próximo à região central da cidade. Inaugurado em 08/02/1897, sua construção resultou de uma determinação da Comissão Construtora da Nova Capital, que proibira os sepultamentos no adro da Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem. Na época, ordenou-se a utilização de um cemitério provisório no espaço onde hoje cruzam as ruas Rio de Janeiro, Tamoios, São Paulo e Tupis, sendo o definitivo - o do Bonfim - erguido numa área além do perímetro urbano traçado pela comissão construtora (delimitado pela atual avenida do Contorno), ocupando uma área de aproximadamente 170.036 metros quadrados, num lugar denominado "Alto dos Meneses".
A lenda da “loira do Bonfim” começou por volta das décadas de 1940 e 1950, e segundo informações contemporâneas, tratava-se de uma mulher que aparecia por volta das duas horas da madrugada, sempre vestindo roupas brancas, insinuando-se junto aos boêmios que aguardavam condução no ponto de bonde existente diante de uma drogaria, no centro da cidade. Dizia que morava no Bonfim, que estava afim de um programa, e quando alguém se interessava, ela o levava para o cemitério do bairro, desaparecendo assim que chegavam naquele local. Como às vezes a criatura preferia chamar um táxi, os motoristas desses veículos de aluguel, além dos motorneiros e condutores dos bondes, passaram a não aceitar a escala de trabalho no horário noturno. Não era por medo, diziam eles, mas sim por precaução...
Existem, porém, algumas variações sobre essa história fantasmagórica: na primeira delas, a loira é apenas um vulto meio indefinido que aparece aos frequentadores das regiões boêmias existentes nas imediações do bairro do Bonfim; uma segunda versão diz que ela, na verdade, não tem a intenção de seduzir qualquer homem, limitando-se a chamar um táxi e pedir ao seu motorista que a leve ao alto do Bonfim, onde desaparece dentro do cemitério tão logo o veículo pare diante de seu portão de entrada; a terceira diz que certa noite a loira procurou a delegacia policial existente no atual bairro da Lagoinha, vizinho ao do Bonfim, e pediu que um dos policiais a acompanhasse até sua casa, no que foi atendida: mas o detetive quase morreu de susto quando descobriu que o destino da moça era o cemitério. Seja como for, o fato é que, na época, os comentários sobre a misteriosa mulher apavoraram muitos moradores da capital mineira, que simplesmente deixaram de sair de casa após certa hora da noite.
A Moça Fantasma
Reza a lenda que a Moça Fantasma desce a Serra do Curral toda vestida de branco para encontrar amores perdidos.
Segundo Heloísa Starling, os fantasmas de BH surgiram da destruição das velhas casas que deram lugar à nova capital.
— Nenhuma outra capital brasileira tem destruído tanto a forma de seus lugares públicos. Essa é a maneira dos habitantes pensarem a destruição da cidade. Os fantasmas são a memória do lugar.
O poeta Carlos Drummond de Andrade faz menção a esse mito belo-horizontino em seu poema “Canção da Moça-Fantasma de Belo Horizonte”, incluído no livro “O Sentimento do Mundo”, cujos versos dizem:
Eu sou a Moça-Fantasma / que espera na Rua do Chumbo / o carro da madrugada. / Eu sou branca e longa e fria, / a minha carne é um suspiro / na madrugada da serra. / Eu sou a Moça-Fantasma. / O meu nome era Maria, / Maria-Que-Morreu-Antes. / Sou a vossa namorada / que morreu de apendicite, / no desastre de automóvel / ou suicidou-se na praia / e seus cabelos ficaram / longos na vossa lembrança. / Eu nunca fui deste mundo: / Se beijava, minha boca / dizia de outros planetas / em que os amantes se queimam / num fogo casto e se tornam / estrelas, sem ironia. / Morri sem ter tido tempo / de ser vossa, como as outras.
(...) As moças que ainda estão vivas / (hão de morrer, ficai certos) / têm medo que eu apareça / e lhes puxe a perna... Engano. / Eu fui moça, Serei moça / deserta, per omnia saecula. / Não quero saber de moças. / Mas os moços me perturbam. / Não sei como libertar-me. / Se o fantasma não sofresse, / se eles ainda me gostassem / e o espiritismo consentisse, / mas eu sei que é proibido / vós sois carne, eu sou vapor. / Um vapor que se dissolve / quando o sol rompe na Serra. / Agora estou consolada, / disse tudo que queria, / subirei àquela nuvem, / serei lâmina gelada, / cintilarei sobre os homens. / Meu reflexo na piscina da Avenida Paraúna, / (estrelas não se compreendem), / ninguém o compreenderá.
O Avantesma da Lagoinha
De acordo com a lenda um senhor de terno preto, sem rosto definido, gosta de assustar os motoristas de Belo Horizonte. Ele tem "aparência excêntrica e chora um choro convulsivo". Antes, assustava os condutores dos bondes. Hoje, gosta de pendurar-se nos viadutos para importunar motoristas de ônibus.
O Fantasma da Serra
O bairro da Serra, na região centro-sul, é um dos que conta com seu fantasma: um senhor de terno preto e guarda-chuva que surge nos portões das casas da rua do Ouro, segundo o guia, para assombrar os vizinhos.
O Fantasma da Papuda
Quem sobe a rua da Bahia até a avenida Afonso Pena, no centro, se depara com um grafite da Maria Papuda em frente ao Parque Municipal. De acordo com uma antiga lenda, ela é a última moradora do Curral del Rey e teve um casebre destruído naquele quarteirão.
Roberto Andrés vê as histórias de fantasmas como consequência da destruição das velhas casas.
— Nessa ânsia de modernização, as casas vão sendo destruídas. É demolir e reconstruir. Isso fica gravado.
O Assombrado Palácio da Liberdade
Localizada na Praça da Liberdade, a antiga sede do governo estadual teria sido construída sobre uma casa de família, no fim do século 19. De acordo com a lenda, a antiga dona do imóvel teria ficado contrariada com a construção, por ser obrigada a deixar o seu lar.
Os belo-horizontinos que contam a história afirmam que, após a morte da proprietária, sua alma assombrava periodicamente o Palácio da Liberdade.
Após as 18 horas são ouvidos ruídos de portas, barulhos de máquinas de escrever e passos pelos corredores. Dizem até que ex-governadores já relataram a ocorrência de fatos estranhos no local.
Não acredita?
Em 2002, o ex-Presidente da República e ex-Governador Itamar Franco, garantiu que assombrações rondam o palácio.
Até Itamar Franco viu os Fantasmas
O antigo governador mineiro, Itamar Franco, fez uma revelação bombástica: ele disse à imprensa que o Palácio da Liberdade -sede do governo de Minas- está "povoado de fantasmas".
Itamar tentava se esquivar de questões sobre o ajuste de contas do Estado com a União, quando, de súbito, foi questionado se acreditava na existência de fantasmas. "Fantasmas existem", respondeu.
Em seguida, relatou: "Eu estava sozinho em uma sala com um colega de vocês (jornalistas), com portas e janelas fechadas. De repente uma porta se abriu. O jornalista que estava comigo era bem moreno e ficou branquinho."
Itamar disse que a sede do governo, inaugurada em 1897, sofre a ação de uma "energia cósmica".
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