Você provavelmente deve conhecer os terríveis dementadores, criaturas que assombram o universo do bruxinho Harry Potter, o que você provavelmente não sabia é que no folclore brasileiro existem criaturas semelhantes, conhecidas como bradadores.
Conta a lenda que, nos sertões dos estados de Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais e São Paulo, existe uma espécie de criatura assombrando as pessoas por lá. Tal criatura sai por aí a bradar, emitindo berros muito altos, intermitentes e compassados, um som horrível para aqueles que já o ouviram. Por isso, seu nome: Bradador.
O Bradador é um fantasma que cumpre seu fado gritando, bradando, chamando, durante a noite, ao redor das casas ou nos caminhos frequentados. Não tem forma conhecida como o Pé de Garrafa que possui o sestro dos berros atroadores e noturnos. Não é uma alma do outro mundo que carpe e chora seu destino sobrenatural. O Bradador quase que protesta contra o castigo. As lamúrias não seguem os ritmos plangentes da Garache, de Poitevin, dos pôtres da Bretanha. São berros altos, soltos e terríveis, que põem os cabelos em vertical o cobrem de medo a região escolhida para a visita do espectro.
O folclorista paranaense, Sr. Francisco Leite, em amável informação, descreveu um Bradador de sua terra:
No Ribeirão das Onças, sítio que dista 4 léguas da Capital do Estado, corre a lenda de que um Bradador atravessa os campos, correndo, todas as sextas-feiras, depois da meia-noite. Vai bradando pelos descampados. É uma alma-penada. Afirmam os caboclos que se trata do espírito de um corpo seco, ou melhor, de uma múmia, que foi desenterrada do cemitério do povoado Atuba, e jaz encostada a um pé de imbuia, completando seu fado material sobre o solo...
Eu, quando muito jovem, tive o desprazer de ver essa múmia. É o Bradador daquele trecho do sertão paranaense. Só depois de cumprir a sina, seu corpo poderá ser absorvido pela terra, que o rejeitara por largo espaço de tempo.
Assim se vê a convergência dos mitos do corpo-seco com as vozes noturnas, conjugadas na identidade da pena supraterrena.
O Sr. Edmundo Krug, viajando pela fronteira São Paulo-Paraná, encontrou as estórias estupefacientes do Bicho Barulhento, mas não lhe foi possível minúcia sobre a forma do fantástico animal. Escreveu o Sr. Krug em A Superstição Paulistana (Sep. da Revista da Sociedade Científica de São Paulo, vol. V, janeiro-agosto de 1910, pp. 29/30, São Paulo):
A este capítulo da minha exposição pertence o Bicho Barulhento e o Cavalo-sem-cabeça. Sobre o primeiro, eu mesmo presenciei um fato que convém assinalar aqui; quanto ao segundo não tenho dados que possa citar. Viajando de Xiririca a São José do Paranapanema, por terra, a cavalo, pelo sertão inóspito, denominado Sertão do Batatal, passa-se pelo Rio das Mortes, lugar histórico na mineração paulista. Diz a lenda que 40 bateadores de ouro aí se assassinaram mutuamente, devido a grandes achados do precioso metal que fizeram no supracitado rio. Este lugar passa por ser assombrado, existindo aí o tal Bicho Barulhento, que ninguém ainda viu, porém, cuja voz se ouve à noite e que é tão perverso que mata aquele que o vir.
Devia pousar aí, se as chuvas torrenciais que caíam incessantemente no dia da minha jornada não tivessem parado. O camarada que me acompanhava disse-me positivamente que me abandonaria se eu persistisse nessa intenção. Felizmente ou infelizmente as chuvas cessaram e sem novidade alguma pudemos prosseguir.
Sobre o tal Bicho Barulhento o meu camarada nada me pôde dizer. Eis aí um fato que propalado de boca em boca torna-se, sem motivo algum, a causa de uma superstição. É bem provável que desta maneira se criam outras, cujas causas são completamente desconhecidas. Mesmo de outros lados não pude conseguir explicações sobre o tal Bicho Barulhento...
Parece, evidentemente, tratar-se do Bradador em estado primitivo, longe do antropomorfismo da fase paranaense.
O Bradador, curiosamente, recorda no Folclore de Portugal o ciclo das Mouras. Entre estas há, em Trás-os-Montes, a atroante Zorra Berradeira que alarma os casais adormecidos com o estrépito de seus gritos, incontidos e súbitos. Fantasma da noite, vive nas estórias, recordado nos serões de inverno, pela memória dos velhos ao espanto dos meninos. Luís Chaves assim evocou a Zorra Berradeira (Mouras Encantadas, p. 38, Lisboa, 1924):
A Zorra Berradeira foi Moura encantada, e quem sabe que lindos tesouros e admiráveis belezas tinha como predicados do seu encantamento! Uma ocasião faltou aos seus deveres com Alá, infringiu as regras impostas pelo encanto, a que devia obedecer. Foi desobediente, e o castigo não se fez esperar.
Com figura de mulher, que de longe parece uma cabra negra e de perto um abutre asqueroso, anda pelos campos e pelos cabeços, de noite, altas horas, em berros tremendos, que se ouvem por todos os arredores como sinal de desgraça.
No Algarve também grita a Zorra espantosa. J. Leite de Vasconcellos escreve:
É crença geral no Algarve, que aparece por ali de tempos a tempos, isto é, de sete em sete anos, uma alma penada, na figura duma zorra, e que se algum mortal a arremeda, é perseguido pela sombra dela até a morte. Chamam-lhe a Zorra Berradeira ou a Zorra de Odeloca, que anda constantemente a berrar (Tradições Populares de Portugal, p. 302, Porto, 1882).
Os portugueses no Brasil não duvidaram em divulgar os créditos do Bradador que lhes avivava a figura tempestuosa e áspera da Zorra Berradeira. A lei da convergência auxiliou a maior ampliação do mito, comum e familiar, nas várias tradições."
Guardiões do Tesouro
A versão mais popular da lenda diz que os Bradadores são guardiões dos tesouros enterrados. Tudo teria começado quando fazendeiros gananciosos teriam enterrado suas riquezas como segurança na época da guerra e cada um criou um código com outros fazendeiros, no qual um gritaria para o outro e ao ouvir o grito, o outro responderia gritando novamente, até todos eles serem alertados, tudo isso para eles se encontrarem caso algo suspeito fosse visto no local onde enterraram o tesouro e pudessem agir contra o invasor e protegerem suas riquezas. Só que o acordo não deu certo e um fazendeiro teria matado o outro e assim sucessivamente até todos morrerem, pois cada um deles planejava desenterrar e roubar o tesouro alheio de madrugada.
A lenda diz que ao ouvir um grito na mata, você deve responder gritando novamente, se ficar em silêncio pode ser confundido com um invasor e ser morto pelo Bradador, ao gritar a criatura gritará novamente e mais alto do que você, dessa vez você deverá prender o fôlego e se preparar para gritar ainda mais alto do que o Bradador, se você conseguir essa proeza a criatura aparecerá em sua forma humana de fazendeiro e te levará ao seu tesouro, se gritar mais baixo do que o Bradador, ele chegará bem próximo de você como uma assombração desfigurada e gritará várias vezes na sua orelha até estourar o seu tímpano, fazendo seu ouvido sangrar e você perder os sentidos, com você atordoado ele gritará cada vez mais alto até ter certeza que você ficou totalmente surdo, com seu desespero ele se fortalecerá e entrará em seu corpo, até te deixar totalmente cego, quando você perder totalmente a visão e a audição, ele esperará perder também a razão de viver, quando isso acontecer ele te dará o temido "abraço da morte", ou seja, possuirá sua alma por completo e se libertará para a luz, o lado bom é que agora você finalmente saberá onde está o tesouro enterrado, mas não poderá ter a riqueza com você, pois é o Bradador.
Um comentário:
Gostei muito dessa história. Mais vai ter coragem assim? Rsrsrs. Aqui em Itaperuçu PR, tem um perto de casa que às vezes passa por cima da nossa casa e vai longe. Minha mãe falou nunca arremede. O antigo proprietário arremedou. Quase ficou louco. Pregou janelas, portas e encheu de crucifixos a casa. Diz ele que o espiespí ficava vibrando os metais das correntes da porta e as janelas. Mas não entrou na casa. Acredito que era por causa da luz das velas e do fogão a lenha.
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