Conheça dez lendas urbanas da cidade de São Carlos - SP

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Conheça dez lendas urbanas da cidade de São Carlos - SP


No interior de São Paulo, a cidade de São Carlos com 220 mil habitantes e uma população flutuante de 30 mil universitários, é como um Vale do Silício brasileiro. Com cursos e empresas ligados a tecnologia, a cidade concentra o maior número de pesquisadores com doutorado do país.

Quem mora na cidade hoje nem imagina que no passado era uma verdadeira realidade paralela, não passava de uma pacata cidade e com o cotidiano repleto de fantasmas, demônios e lobisomens. Os relatos imaginários feitos principalmente pela parcela idosa da população do município, ajudam a revelar, além das histórias, o estilo de vida da época, crenças regionais e costumes religiosos no passado do município. Selecionamos dez lendas urbanas que ainda assombram a moderna cidade, nos fazendo recordar de um passado muito distante.


Finado Galdino


Há algum tempo, próximo à região do Jockey Clube, havia uma grande fazenda muito bem cuidada e mantida pelo proprietário, Seu Galdino. Depois que o homem faleceu por conta da idade avançada, a propriedade passou a ser administrada por outras pessoas da família. 

Diz a lenda que a morte não foi capaz de afastar a alma de Galdino daquele lugar. Muitas pessoas começaram a relatar visões do fantasma daquele homem circulando pelo local. Outros disseram tê-lo visto em trabalhos cotidianos que realizava na fazenda, sendo possível, inclusive, ouvi-lo manusear ferramentas da antiga oficina. 

As aparições eram tão frequentes que algumas pessoas passaram a não se incomodar e conviver em harmonia com o espírito daquele homem, o que ainda parecia muito assustador para outros moradores.

Bonde Fantasma 


O relógio marcava 23h naquela sexta-feira de outubro em 1940. Dentro do bonde, motorneiro e cobrador se preparavam para fazer a última viagem do dia. A linha 01, que ia do Cemitério Nossa Senhora do Carmo até a Estação Ferroviária, costumava viajar vazia e silenciosa ao fim do expediente, provavelmente por conta do horário. Naquele dia, no entanto, cerca de 15 pessoas embarcaram no bonde em frente ao cemitério, algo inusitado para os funcionários. O motorista teria notado que todos os viajantes estavam bem vestidos e apresentavam feições sérias. Ao conversarem entre si, motorneiro e cobrador chegaram à conclusão de que aquelas pessoas deveriam estar indo ou voltando de alguma festa. 

O bonde continuou sua viagem como de costume, mas o silêncio incomum para um veículo com 15 passageiros chamava a atenção dos dois funcionários. Assustado, o cobrador decidiu esperar para receber o dinheiro dos viajantes e se colocou junto ao motorneiro, na cabine frontal. Em determinada parte do trajeto, ouviu-se um barulho infernal; uma mistura de grito com um arranhar metálico. O bonde balançou e parou bruscamente por um momento, retomando a viagem logo em seguida. A pedido do motorneiro, o cobrador se dirigiu até o vagão para checar se ninguém havia se machucado. Para sua surpresa, o vagão estava vazio. Desesperado, o homem gritou para que o bonde parasse. Os dois funcionários desceram do veículo, mas a longa avenida também estava vazia, sem qualquer sinal que indicasse a presença de alguém por ali. Religioso, o motorneiro logo tratou de segurar o terço que carregava no pescoço. O cobrador, confuso, tentava entender o que havia se passado, ao que o motorista respondeu horrorizado: "Aqueles não eram passageiros. Eram espíritos", disse. 

A história foi contada e recontada, atravessando gerações entre a população de São Carlos. Com o tempo, o conto do "Bonde Fantasma" ganhou novas variantes, como a versão em que o motorista deixava os passageiros em frente ao cemitério apenas para observá-los, em choque, subir o muro e retornar a seus próprios túmulos. 

Uma terceira história, esta com ar um pouco mais verossímil, conta a respeito de um episódio no qual dois funcionários estariam se preparando para o fim do expediente quando, em frente ao cemitério, surge uma cabeça do outro lado do muro que pergunta "que horas são?" aos homens. Apavorado, um dos motoristas deixou o bonde e saiu correndo pela Avenida São Carlos, deixando o outro condutor para trás. Ao averiguar melhor a situação, o homem percebeu que a misteriosa aparição, que continuava a perguntar "que horas são?" era, na verdade, um homem bêbado que havia dormido sobre um dos túmulos do cemitério e perdido a noção do tempo. Ao acordar, o homem teria ficado em pé em uma das lápides e perguntado, por cima do muro, a respeito do horário. O motorista que saiu correndo foi encontrado muitos quarteirões abaixo, próximo à Rua Antônio Blanco, pálido, ofegante e mudo de medo e pavor. 

Dona Pina 


Antigamente, onde fica a Vila Celina, havia um bairro conhecido como Monjolinho. Dona Pina foi uma moradora dessa região que viveu a maior parte da velhice sozinha em casa. O olhar severo e as histórias sobre a idosa faziam com que as crianças do bairro morressem de medo de Dona Pina. 

Com poucos amigos, a mulher tinha o estranho costume de colocar estrume ao longo da cerca do quintal de forma a manter a vizinhança longe de suas frutas. Em um dia chuvoso, Dona Pina teria saído de casa para recolher abacates no quintal antes que as crianças os apanhassem. Por conta da tempestade, alguns galhos do abacateiro se soltaram, rompendo cabos da rede elétrica. Os cabos ficaram soltos no quintal, mas Dona Pina não se preocupou com isso e correu para apanhar as frutas. 

Por falta de atenção, a mulher acabou encostando em um dos fios elétricos caídos no chão. Ela foi vítima de uma descarga elétrica que resultou em sua morte. Depois do acontecimento, muitos vizinhos relataram ter ouvido Dona Pina andando na residência. Entre os barulhos, moradores contaram ter testemunhado antigos hábitos da senhora como barulhos de bife sendo batido na mesa e a tosse característica da idosa na madrugada. Para esses vizinhos, o espírito de Dona Pina continuou a vagar pela residência mesmo após a morte.

A moça que dançou com o diabo 


Era sexta-feira Santa, mas a jovem não respeitava as tradições de penitências da data. Em uma casa na região central de São Carlos, a moça resolveu fazer um baile de carnaval em plena sexta da Paixão. Adorava dançar, afrontou os pais e convidou os amigos para a festa. 

No início da noite, o evento estava lotado. Um dos convidados chamou a atenção da anfitriã: cortejou a jovem durante toda a noite. Dançaram e se divertiram. Mas a despedida foi assombrosa. 

Quando o galã tirou o chapéu, mostrou sua real identidade: ele era o satanás, com dois chifres na cabeça. O pânico tomou conta e a moça festeira enlouqueceu. Nunca mais voltou ao normal. 

O diabo visitou a casa que não respeitou a tradição de silêncio e penitência da sexta-feira Santa. 'Moça tão bonita. Ficou doida' , lamentava o povo . 

Lobisomem da Vila Monteiro 


Em meados dos anos 1960, na região da Vila Monteiro, alguns moradores começaram a relatar a presença de um lobisomem. Em uma das casas no bairro, durante a noite, uma presença estaria agitando os cachorros da vizinhança. Algumas pessoas relataram ter visto uma criatura estranha em uma das janelas da residência. 

Os moradores teriam se unido para dar um fim no que julgavam ser um lobisomem, mas desistiram com medo da superstição que existia em torno da figura, na qual quem matasse um lobisomem acabaria herdando a maldição. Por conta disso, ficou decidido que o melhor a fazer era se afastar da criatura e permitir que ela cumprisse seu destino: cruzar sete porteiras de sete fazendas em noite de lua cheia. 

No dia seguinte, os vizinhos afirmam ter encontrado apenas os pelos do homem-animal presos a uma cerca.

Ataque invisível 


Reza a lenda que em certo dia, na Fazenda do Urso (onde hoje está localizado o complexo Dahma), três amigos se encontraram para pescar. Como era de costume, os homens trouxeram cachorros para fazer a guarda e ajudar a encontrar o caminho. O local escolhido era de difícil acesso por conta das grandes árvores e a densa vegetação. 

Durante a noite, os três homens ouviram os cães latindo em um lugar próximo ao que estavam. Como a pescaria estava boa, apenas um deles decidiu verificar o que estava acontecendo enquanto os outros continuavam a retirar os peixes da água. 

O homem pegou um atalho para chegar rapidamente até a matilha. Algum tempo depois, os latidos pararam e os outros dois homens que haviam ficado para trás perceberam que o amigo não havia voltado. Eles saíram à procura do rapaz, mas não o encontraram. 

No dia seguinte, o homem ressurgiu, porém muito machucado e extremamente assustado. Ele explicou, com muita dificuldade, que quando chegou perto dos cachorros, foi puxado pelas costas e arremessado em um buraco por uma força invisível. A partir desse momento, ele relatou que só conseguiu sentir as pancadas que levava, sem nunca conseguir avistar a origem da força. 

Mais de quarenta anos depois, o acontecimento continua um mistério para quem conheceu o homem e para aqueles que ouviram seu relato. 

Carruagem mal assombrada 


Em meio às centenas de objetos históricos encontrados no Museu de São Carlos, muitas histórias surgiram a respeito da atmosfera misteriosa no entorno do local. Muitos acreditavam que os sentimentos e o esmero dos antigos donos acabaram envolvendo o objeto e provocando acontecimentos inusitados. 

Antigos funcionários do museu afirmaram terem sido testemunhas de situações inusitadas, como portas que abriam e fechavam sozinhas e sons estranhos que eram ouvidos durante a limpeza de alguns itens. 

O caso mais contado diz respeito à presença de um fantasma em uma réplica da carruagem utilizada por Dom Pedro II em visita a São Carlos em 1886. O veículo, que faz parte do acervo do museu desde a inauguração, teria sido palco de frequentes aparições. Os funcionários relatavam a presença de um homem alto, magro e calvo próximo ao veículo. 

Diariamente, conta-se que a assombração era vista se dirigindo à carruagem no momento em que o museu encerrava as atividades. O mistério nunca foi desvendado, apesar de a carruagem continuar exposta para visitação em São Carlos. 

O fantasma do trevo


Um fantasma que aparecia no trevo tacou o terror entre os motoristas por um longo tempo. Somente alguns anos mais tarde descobririam que a "assombração" era o andarilho Paulino se divertindo com um esvoaçante lençol. Negro, franzino, enfiado em roupas fartas, debaixo de um chapéu e não raro coberto por uma capa, Paulino circulava pelas ruas, seguido por dezenas de cães a quem dava alimento. Dizem que ele costumava deitar na calçada e quando alguém passava, fazia ouvir um vozeirão, sem mexer os lábios.

Ainda na época, se divertia em relatar a quem quisesse ouvir, detalhes de suas "viagens em discos voadores" quando OVNIs despertavam grande curiosidade. O "fantasma" que ele criou também assustava quem passava pela rodovia Washington Luis, que tinha pista única e o trevo de acesso a São Carlos era estreito. Os caminhões que seguiam na direção de Araraquara costumavam descer na "banguela" até o fundo do vale nas proximidades do trevo. Os faróis dos veículos de então eram pouco mais do que lamparinas. Paulino cobria-se com um lençol e atravessava a pista correndo, à frente dos caminhões, apavorando os motoristas. Alguns deles paravam num posto de gasolina logo adiante, defronte à famosa "Casa da Lucy", de onde os comentários se espraiaram, ampliando a fama e o mistério das peripécias de Paulino.

Procissão fantasma no Campo do Rui


Uma das mais antigas lendas de São Carlos envolve o local onde se encontra hoje o campus I da Fesc, na Vila Nery, que sediou um cemitério entre 1882 e 1890, ficando fechado até por volta de 1930. Em 1932 aquela área deu lugar ao Estádio Rui Barbosa, cuja construção foi envolta em histórias que se espalhavam pela cidade. 

Conta-se que no início da construção do estádio, foram descobertas ossadas que haviam sido esquecidas no local quando foram incinerados os ossos dos que ali estavam sepultados. Nas noites de sextas-feiras havia uma procissão de pessoas encapuzadas que saíam exatamente à meia noite, davam a volta no campo e desapareciam sem deixar vestígios. Dizia-se que eram pessoas que haviam sido enterradas no antigo cemitério e cujos ossos não foram incinerados. O relato consta no livro "Aspectos do Folclore São-carlense", de Lígia Templo Garcia Gatti.

O fantasma do Fórum


Muitos ainda acreditam que o fantasma de um antigo funcionário do Fórum assombra o Edifício Euclides da Cunha, no centro da cidade. 

"Seu" Mattos era servente do Fórum que funcionava no prédio onde hoje está a Câmara de São Carlos. Sujeito fidalgo, extremamente atencioso, matou-se por envenenamento e certa manhã seu corpo foi encontrado na entrada da sala do café no primeiro andar do edifício. Poucos tiveram acesso ao conteúdo do bilhete que deixou e que decerto ajudou a criar a lenda. Na pacata São Carlos da época, a Câmara dividia o prédio com o Fórum e no subsolo funcionava a cadeia pública. Há quem diga que não só ele, mas outros personagens que vieram depois também "transitam" pelos casarões do centro.

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