Dica de filme: A Bruxa

terça-feira, 8 de março de 2016

Dica de filme: A Bruxa



Sinopse

Situada no ano de 1630, a trama gira em torno de um fazendeiro expulso de suas terras e que se vê obrigado a a se mudar com a família para um pequeno terreno ao lado de uma floresta sinistra. O local, segundo uma lenda urbana, seria controlado por bruxas. Quase que imediatamente, coisas estranhas e inexplicáveis começam a acontecer - animais ficam violentos, as colheitas morrem e uma das crianças desaparece. Desconfiados e paranoicos, os membros da família acusam a adolescente de praticar feitiçaria.



Ficha Técnica

Título Original: The Witch
País: EUA/Canadá
Gênero: Drama/Terror
Direção e roteiro: Robert Eggers
Elenco: Anya Taylor-Joy,Ralph Ineson, Katie Dickie, Harvey Scrimshaw, Lucas Dawson e Ellie Grainge
Estreia no Brasil: 03 de março de 2016
Duração: 90 min
Classificação Indicativa: 16 anos (Violência , Nudez e Conteúdo impactante)



Curiosidades

- Vencedor do prêmio de Melhor Direção no Festival de Sundance

- Stephen King, o rei do terror, conhecido por obras como “O Iluminado”, “Carrie, a Estranha”, entre outras, foi ao Twitter para falar bem do filme: "‘A Bruxa’ me deixou com um medo enorme. E é um filme de verdade, tenso e instigante, assim como é profundo”.

- O filme é uma produção do brasileiro Rodrigo Teixeira. No Brasil, encabeçou obras como “O Cheiro do Ralo”, “O Abismo Prateado”, “Heleno”, “Quando Eu Era Vivo” e “Tim Maia”. Fora, produziu longas bem recebidos por público e crítica como “Frances HA” e “Mistress America” - ambos do diretor Noah Baumbach - além do erótico “Love 3D”, último título do cineasta Gaspar Noé.

- Inicialmente previsto para o final de Outubro de 2015, o filme foi adiado para 31 de dezembro de 2015, novamente adiado sua estreia só ocorreu dia 3 de março de 2016.

- O produtor brasileiro Rodrigo Teixeira apresentou o longa no Festival de Sundance como um pesadelo do passado, com ecos no presente!

- Detalhista, o diretor buscou retratar a vida dessa família de cristãos puritanos do século 17 da forma mais realista possível: “Tudo que aparece na câmera é feito dos materiais de construção corretos e autênticos que uma família puritana teria usado nos anos 1630, como tábuas de carvalho cortado a mão e telhados cobertos por palha de junco. Técnicas e ferramentas autênticas foram usadas sempre que necessário para tornar o mundo da história mais plausível e autêntico”.

- Uma casa de fazenda autêntica, baseada em transcrições arquitetônicas descobertas na biblioteca da Plimoth Plantation, foi recriada pouco a pouco pelo designer de produção Craig Lathrop nas regiões inexploradas canadenses do Norte de Ontário, nas proximidades de uma pequena cidade madeireira chamada Kiosk. Durante a construção da cabana, Lathrop chegou até a aumentar as aberturas das janelas em quase um terço, de outro modo seria muito escuro para filmar. “Craig foi fanaticamente intransigente sobre a criação dos cenários, muitos deles frequentemente próximos de estruturas reais”, explica Eggers.

- O realismo é tanto que o idioma falado no filme é inglês arcaico. Para não perder todos esses detalhes narrativos o filme chegou aos cinemas do Brasil apenas com cópias legendadas.



Crítica

Uma metáfora sombria da batalha do homem contra a natureza


Assistir o terror psicológico "A Bruxa" é como fazer uma viagem de volta ao tempo, nos sentimos em meados de 1630 na Nova Inglaterra, onde acompanhamos a rotina de uma família cristã da época, durante o decorrer da trama já somos surpreendidos com a ausência total dos clichês do gênero, aqui não existe impacto sonoro para assustar e muito menos nenhuma preocupação em agradar a plateia com os sustos esperados dos filmes de terror modernos, o terror está nas relações entre eles e é esse terror psicológico o responsável por manter a tensão do filme, essa paranoia crescente deixa o medo sem forma, sem rosto, sabemos que ele espreita na floresta, porém não temos a menor ideia do que vamos encontrar pela frente.

O elenco não está apenas bom como também surpreendente, digno de premiação, as atuações mirins impressionam mesmo. O pai representa a força e a compaixão, já a mãe representa a culpa e a tensão e a filha mais velha é a personagem principal do filme, ela representa a sanidade que tenta sobreviver em meio a tensão crescente. É tudo muito realista, o figurino, os cenários, os diálogos entre os personagens (inclusive em algumas cenas foram usados diálogos reais encontrados em documentos históricos), os medos do cotidiano são muito bem representados, o modo de pensar da época, é impossível se desgrudar da cadeira em qualquer segundo do filme, com uma ótima e sufocante fotografia ele te prende do começo ao fim mesmo sendo uma produção de ritmo lento, aqui o desenvolvimento personagens são mais importantes do que a própria história do filme, imaginar situações acaba sendo muito mais assustador do que presenciar.

O filme aborda vários temas e causa muitas reflexões, principalmente sobre feminismo e fanatismo religioso, inclusive no desenrolar do filme a casa da família acaba virando um verdadeiro tribunal da inquisição. O ambiente depressivo e isolado perto de uma floresta de onde a família retira o seu sustento para sobreviver é também o local onde a imaginação domina a razão, o grande objetivo dessa obra é causar uma reflexão sobre a relação do homem com a natureza. Aqui o cristianismo é usado como metáfora para representar a negação da natureza, isso pode ser observado em muitos momentos quando o homem nega-se a si próprio em função de uma crença, podemos observar como as crianças são alienadas desde pequenas a seguirem os passos dos seus pais e renegam seus instintos naturais e os substituem pela culpa e pela paranoia cada vez mais crescente, em um dos momentos um dos personagens mirins chega a pedir perdão por infringir todos os mandamentos em pensamento. O terror do filme representado pelas bruxas seria a própria natureza tentando tomar o seu lugar de volta, inclusive essa analogia fica ainda mais óbvia quando elas se transformam em diversos animais ao longo da trama como corvos, bodes, lebres, etc. A trilha sonora está repleta de sons da natureza em contraste com salmos histericamente dissonantes do século 17, representando muito bem esse conflito, porém em alguns momentos acaba soando um pouco repetitiva, um dos poucos pontos negativos do filme.

O final do filme consegue ser facilmente um dos mais assustadores da história do cinema, a solidão e a tristeza presente ao longo da trama são intensificadas ainda mais em seus momentos derradeiros ao se misturar com o temor e o medo do desconhecido, então somos convidados a entrar na floresta pra finalizar essa tensa e profana viagem pela mente humana.

Cotação: **** (ÓTIMO)



Trailer



Bônus

Confira uma breve entrevista com o diretor do filme:

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