A poucos dias do fechamento definitivo do Playcenter, que encerra as atividades em São Paulo no próximo dia 29, o evento mais famoso do parque, as Noites do Terror, deixou oficialmente de existir no domingo, 15 de julho, para tristeza dos fãs e das centenas de atores envolvidos no show.
O evento reuniu 7.500 pessoas no último dia em uma noite cheia de lágrimas e muitos sustos, é claro
Após 25 anos e 26 edições realizadas, chegou ao fim a marca registrada do parque. De acordo com a organização, 7.500 pessoas presenciaram esse dia histórico.
Até por isso, os produtores não contiveram a emoção quando os monstros invadiram o palco pela última vez, como fez questão de frisar diversas vezes o mestre de cerimônias Nilldo Jaffer, um dos mais celebrados pelo público.
Anderson Rodrigues, de 36 anos, tentava em vão conter as lágrimas ao assistir a abertura. Há 14 anos ele ingressou nas Noites do Terror como ator, virou figurinista tempos depois e, até domingo passado, produzia o espetáculo. “Já chorei muito porque eu aprendi a ser outro ser humano aqui. Ver o fim disso dói”, lamenta.
Para ter dimensão do trabalho, apenas a produtora dele recebeu quatro mil inscrições de atores, bailarinos e circenses interessados em trabalhar no evento. Anderson ajudou a escolher 97 dos 130 profissionais que garantem diversão e sustos ao eclético público do parque. O número de envolvidos sobe a 200 com a equipe de apoio e de maquiadores.
Thiago Gianzantti, 24 anos, não é maquiador de profissão, mas ajuda a caracterizar os monstros, que vão de figuras assustadoras do imaginário popular aos mais famosos personagens de filmes hollywoodianos. Ele conta que certas transformações são rápidas, de apenas cinco minutos, entretanto, outras chegam a demorar até 50 minutos para ficarem prontas.
“O coração está apertado, é muito triste para quem está aqui há mais tempo”, confidencia ao grudar látex e algodão no rosto de Fábio Gianzantti, que concorda. “O fim é triste, porque estar aqui é incrível, uma experiência única”, afirma minutos antes de interpretar o zumbi pela última vez.
Além de espalhados pelo parque com o cair da noite, os monstros também aterrorizam o público em atrações como o hospital psiquiátrico e o cemitério. E não adianta saber que todos são atores, os sustos estão garantidos.
Além dos personagens passeando pelo parque, o evento também teve um mega espetáculo
Prova disso é Cristiane Rangel de Souza, que saiu da atração do manicômio mais aterrorizada que os filhos Nathan, de 11 anos, e Camille, de 8. Com a mão no coração e os olhos marejados, ela disse que o trabalho dos atores é muito bem feito e por isso se assustou mesmo sabendo que nada era real. “Eles respeitam, sabem como fazer, por isso dá medo”.
Nathan, no entanto, não estava preocupado com o medo da mãe e queria ir de novo. “Adorei a parte do louco na cadeira de rodas”, disse. Quando saíram da atração, ainda era dia e, por isso, o garoto não escondeu a ansiedade para ver mais monstros. “Quero que escureça logo”. Sua irmã, um pouco mais cautelosa, rebateu: “Eu quero me esconder”.
Enquanto a família esperava a escuridão, os atores terminavam o trabalho de caracterização nos bastidores. Um dos mais apreensivos eraRicardo Fernandez, de 49 anos, que entrou para o elenco das Noites do Terror em 1988, na primeira edição.
“Eu não sabia dançar, cantar, nada”, diz ele para dimensionar a importância do evento em sua vida. Atualmente, ele é professor de teatro e faz show como a drag queen Lolla. “Estou me segurando, mas no final, eu sei que vou me emocionar”, afirma.
Nesses 25 anos, foram muitos personagens distintos na vida de Ricardo. Alguns marcaram mais, como o bispo de 2009, que o obrigou a emagrecer 10 quilos. “Eu flutuava no palco”, relembra. Ele também gostou de ser, em outra edição, o guardião do cemitério.
Com tanta experiência, Ricardo conta que a reação do público é variada. Uns dão risadas, outros se assustam e tem inclusive aqueles que os agridem. Apesar disso, ele explica que os personagens são proibidos de encostar nos visitantes.
Até último domingo, o ator interpretava o Hannibal e ouvia reações irreverentes como “para, por favor, eu assisti todos os seus filmes”. Mesmo com as súplicas, ele não pode ajudar quem está com medo para não estragar a magia do personagem. Ao contar sua história e relembrar o trabalho nesses anos, Ricardo resumiu o sentimento no último dia: “é como se morresse alguém muito querido”.
Arlene Diniz, de 29 anos, concorda. As Noites do Terror, para ela, são definitivamente sinônimo de família. Foi lá que ela conheceu o marido, que também integrava o elenco em 2003.
Há nove anos juntos, o casal já tem um filho de sete. “Isso é tudo para mim, eu concebi família aqui dentro”. E o amor é forte. Na época em que se conheceram, Arlene era uma bruxa e neste ano, o demônio.
“É engraçado como as pessoas reverenciam a diaba como um deus”, diverte-se sem esquecer que parte de sua história chegaria ao fim naquela noite. “Estou com o coração apertado, quem conhece os bastidores está muito triste”, lamenta.
Os 400 funcionários fixos do Playcenter dividem o mesmo sentimento. No fim do mês, o parque fecha as portas definitivamente. A promessa é que o espaço será reformado para dar lugar a um parque infantil.
O funcionário Eri Alves, de 27 anos, conta que o clima é de tristeza. “Parece que uma bomba vai cair aqui”, brinca. Para ele, as Noites do Terror mudaram a vida de todos os envolvidos. Ele, inclusive, produz atores e auxilia na seleção de elenco. No passado, chegou a interpretar um dos anjos do apocalipse. Agora, para eles, o fim dos tempos chegou.
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