A Assombração da Casa da Colina, clássico da literatura de terror é relançado no Brasil

sexta-feira, 1 de junho de 2018

A Assombração da Casa da Colina, clássico da literatura de terror é relançado no Brasil


A editora Suma acaba de relançar um clássico do terror, A Assombração da Casa da Colina (1959), da norte-americana Shirley Jackson (1916-1965).  O livro, escrito por Shirley Jackson, já deu origem a filmes como 'A Casa Maldita', de 1963; e 'A Casa Amaldiçoada', de 1999. E em breve também será adaptado para uma série de TV produzida pela Netflix, prevista para lançar em 2018 inicialmente com 10 episódios.

Vista por mestres como Stephen King e Neil Gaiman como a rainha do terror, Shirley Jackson entrega um livro perturbador sobre a relação entre a loucura e o sobrenatural. Sozinha no mundo, Eleanor fica encantada ao receber uma carta do dr. Montague convidando-a para passar um tempo na Casa da Colina, um local conhecido por suas manifestações fantasmagóricas. O mesmo convite é feito a Theodora, uma alma artística e “sensitiva”, e a Luke, o herdeiro da mansão. Mas o que começa como uma exploração bem-humorada de um mito inocente se transforma em uma viagem para os piores pesadelos de seus moradores. Com o tempo, fica cada vez mais claro que a vida, e a sanidade, de todos está em risco. “A história de casa mal-assombrada mais próxima da perfeição que eu já li.” — Stephen King.

O livro foi publicado no Brasil, em 1983, pela editora Francisco Alves, mas já está há bastante tempo fora de catálogo. A Assombração da Casa da Colina é o quinto romance da escritora, que se dizia uma aficionada por casas. Num ensaio intitulado Os Fantasmas de Loiret, Jackson afirmou: “Adoro casas. Adoro olhar para elas bem do jeito que estão aí e eu adoro particularmente casas velhas, grandes e luxuosas. Meu avô era um arquiteto, e seu pai, e seu pai; um deles construiu casas para milionários na Califórnia ; eu não preciso comprá-las ou morar nelas nem mesmo entrar nelas, eu só gosto de olhar para as casas”. Nesse breve ensaio, a escritora conta que ganhou do marido um livro de fotos de cartão-postal de casas e, após analisar algumas, uma delas começou a lhe incomodar: “Era uma casa feia, cheia de ângulos todos errados. Eu estava enjoada, doente e a fotografia dela no cartão-postal a deixou amarela e flácida. ‘Não gosto nem um pouco dessa casa’, disse ao meu marido”.

Essa obsessão por casas, e por essa casa incômoda em particular, parece ter resultado na composição de A Assombração da Casa da Colina. Nesse romance, um grupo se reúne numa casa velha e desconhecida para investigar manifestações paranormais. Não são as pessoas em si, mas é a casa, “desprovida de sanidade”, a protagonista.

Uma das grandes características da casa é a sua arquitetura labiríntica: “Vocês não acham incrível nossa extrema dificuldade de achar o caminho certo? Uma casa normal não causaria em nós quatro tamanha confusão por tanto tempo, e no entanto nós sempre escolhemos as portas erradas, o cômodo que queremos nos escapa”.

A primeira casa de Shirley Jackson, filha e neta de arquitetos que usava as construções como elementos literários Foto: Tom Fels.

O romance de Jackson lembra, de certa forma, um conto de 1946 escrito por Cortázar, Casa Tomada. Nele, não se sabe se é a obstinação pela casa ou pelas histórias de seus antepassados que acaba por perturbar suas personagens. Lê-se nesse conto: “Gostávamos da casa porque, além de espaçosa e antiga, guardava recordações de nossos bisavós, o avô paterno, nossos pais e toda a infância. Habituamo-nos, Irene e eu, a permanecer nela sozinhos, o que era uma loucura, pois nessa casa podiam viver oito pessoas”. 

Fato é que o horror de Jackson segue a linha de alguns autores góticos do século 19, como Joseph Sheridan Le Fanu (que teve Carmilla lançado no Brasil em 2018 pela Via Leitura). Nöel Carroll afirma que ele colocou “o sobrenatural em meio ao dia a dia, em que a perseguição de vítimas comuns e inocentes (em vez dos excessivos personagens góticos) era observada de perto e recebia o tipo de elaboração psicológica que daria o tom a grande parte dos trabalhos posteriores do gênero”. 

A propósito das personagens de Jackson, elas não são aberrações ou psicopatas, mas, lembra a escritora Ottessa Moshfegh, no prefácio do livro de contos de Shirley Jackson, Dark Tales, parecem ser pessoas cuja identidade é frágil e incerta.

As personagens de Jackson poderiam ser definidas, na verdade, como pessoas bastante triviais, e a história de vida delas bem poderia ser a de qualquer vizinho nosso. Aliás, seu conto mais célebre, A Loteria, teria nascido, segundo a autora, numa de suas idas ao supermercado: enquanto empurrava o carrinho de bebê de sua filha e descia a colina em direção ao supermercado, pensou em seus vizinhos, “o que todo mundo numa cidade pequena faz”, e imaginou qual deles poderia ser escolhido para um sacrifício. Suas histórias nasciam nas circunstâncias mais banais, mas, como observava a própria escritora, bastava dar a elas “um elemento de fantasia, ou irrealidade, ou imaginação” para fazer nascer as mais estranhas histórias, “engraçadas de escrever”. 

Não se pode esquecer aqui que a atração pelo espectral exige do leitor, como afirmou H. P. Lovecraft, “uma certa dose de imaginação e uma capacidade de desligamento da vida do dia a dia. Relativamente poucos são suficientemente livres das cadeias da rotina do cotidiano para reagir às batidas do lado de fora da porta”. Diria, parafraseando Lovecraft, que um curioso lampejo de magia invadirá algum recanto obscuro da mente do leitor mais empedernido ante a leitura de Shirley Jackson.

A propósito da edição da Suma, falta um prefácio ou posfácio, como existe nas edições originais, os quais oferecem ao leitor informações sobre a escritora e sobre seu processo criativo.


Ficha Técnica


Título original: The Haunting Of Hill House 
Tradução: Débora Landsberg
Capa: Elisa von Randow
Páginas: 240
Formato: 14.00 X 21.00 cm
Peso: 0.403 kg
Acabamento: Capa dura
Lançamento: 26/04/2018
ISBN: 9788556510631
Selo: Suma de Letras
Preço: R$ 49,90


A Autora



Nasceu em São Francisco, Califórnia, em 1916, e faleceu em 1965. Uma das principais autoras americanas do século XX, influenciou escritores como Stephen King, Donna Tartt, Neil Gaiman e Richard Matheson. Sua obra é leitura obrigatória em diversas escolas dos Estados Unidos, e seu trabalho é aclamado pelo público e pela crítica.


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Fonte: Estadão

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