O legado de George Romero, o pai dos zumbis

segunda-feira, 17 de julho de 2017

O legado de George Romero, o pai dos zumbis


George A. Romero, diretor de clássicos como A Noite dos Mortos-Vivos, morreu neste domingo (16) aos 77 anos. O cineasta é considerado o pai dos filmes de zumbi modernos e foi um dos nomes que revolucionou o gênero no cinema

Dono de uma obra que abordou racismo, segregação, desigualdade, consumismo e questões existenciais de modo original, George A. Romero é considerado um gênio por nomes como Quentin Tarantino, Brian De Palma e Wes Craven. Seu trabalho transcendeu as gerações e os limites do cinema.

Segundo a família de Romero, o diretor morreu enquanto dormia “após uma severa batalha contra o câncer de pulmão”. Ele faleceu enquanto ouvia a trilha sonora de um de seus filmes favoritos, Depois do Vendaval, clássico de 1952 dirigido por John Ford e estrelado por John Wayne. 

Romero começou a era dos filmes de zumbi e redefiniu o gênero de terror com A Noite dos Mortos-Vivo, que escreveu ao lado de John A. Russo e dirigiu em 1968. Ao contrário dos filmes dos anos 50 que contavam com cientistas excêntricos, gargalhadas malévolas e castelos mal-assombrados, o longa era mais cru e realista.

A Noite dos Mortos-Vivos tinha Duane Jones, Judith O'Dea e Karl Hardman no elenco e conta a história de sete pessoas que ficam presas em uma fazenda rodeada de zumbis. O filme, que ajudou a definir a mitologia moderna dos zumbis de Romero, foi rodado por US$ 114 mil e arrecadou US$ 30 milhões mundialmente.

Ano passado, o cineasta chegou a criticar a forma como os filmes e séries de zumbis são feitos atualmente e culpou produções como The Walking Dead e Guerra Mundial Z por não fazer mais filmes.

“Eu fiz Terra dos Mortos (2005), que foi o maior filme de zumbi que já fiz. E não acho que ele precisava ser tão grande. A maior parte do dinheiro foi para o elenco. Eles são ótimos, mas não acho que precisava gastar todo aquele dinheiro. Os charutos de Dennis Hopper custam mais do que a produção inteira de A Noite dos Mortos-Vivos (1968), essa é a verdade. Agora, por causa de Guerra Mundial Z e The Walking Dead, eu não consigo fazer um filme pequeno e modesto de zumbis, que deveria ser algo sociopolítico. Eu costumava conseguir lançar alguma coisa com base em ação zumbi, e conseguia esconder mensagens dentro disso. Agora não consigo. No momento em que menciono a palavra zumbi, precisa ser algo como ‘olha, Brad Pitt pagou US$ 400 milhões para fazer isso’”, disse na época.

Romero há muito já devia ter tido seu papel no cinema e em outros campos da cultura esclarecido e reconhecido. Enquanto o gênero do qual é o papa é alvo de preconceito, intelectuais, críticos e nomes entre os mais prestigiados das artes valorizam a obra do cineasta e discutem as metáforas, o posicionamento social, a estética, a ironia e as inovações trazidas pelo diretor.

Autor do aclamado cult que mudou a história do cinema de horror, “A noite dos mortos-vivos” (1968), que fez aos 28 anos, com US$ 100 mil, teve seu filme incluído no prestigiado National Film Registry da Biblioteca do Congresso dos EUA, em 1999. Os dados de outra produção, “Zombie — O despertar dos mortos” (1978), também são irrefutáveis: foi eleito um dos filmes mais cultuados pela revista “Entertainment weekly” em 2003. O longa teve grande sucesso de crítica e se tornou um clássico ao questionar a relação da sociedade com o shopping.

Romero, que tem como maiores influências Orson Welles e Howard Hawks, nunca quis ser uma figura de Hollywood. Optou por permanecer em produções que lhe permitissem continuar livremente como um criador, apesar de ser uma referência para diretores que trabalham com orçamentos milionários.

Além desses realizadores, a crítica também admira e debate a profundidade dos filmes de Romero. Algumas de suas marcas são minorias fortes, personagens femininos relevantes e protagonistas negros. A sociedade dos anos 1960, consumismo, ciência, interesses militares, conflito de classes, terrorismo, todos são temas que permearam a obra de Romero de modo sofisticado, sem soluções esquemáticas ou clichês dramatúrgicos. Ele inaugurou um gênero que arrasta seguidores até hoje, o terror com zumbis.

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