Em busca do Unhudo

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Em busca do Unhudo


A cidade de Dois Córregos-SP (73 quilômetros de Bauru) é um dos municípios paulistas que preserva sua cultura e suas lendas. São inúmeras histórias que despertam o imaginário da população e de moradores das cidades vizinhas. Estão divididas por segmentos: Ribeirinhas, Urbanas, Cachoeiras e Canavieiras. Elas estão descritas no Almanaque de Dois Córregos, de autoria de Heusner Grael Pablas. 

As Ribeirinhas são as mais conhecidas: A Mãe-do-Ouro, A Menina-do-Ouro, As Canoas sem remo e o Unhudo da Pedra Branca. As urbanas são compostas pelas lendas A Água da Nhá Eva e A Noiva do Jardim. As cadastradas na categoria Cachoeiras são A Noiva da Cachoeira do Vernier e a O Cavaleiro Vestido de Branco. Na categoria Canavieiras, figura a lenda O Caminhão Fantasma.

Entre todas essas lendas que predominam no imaginário popular, uma das mais famosas é a lenda do Unhudo, confira abaixo dois causos sobre a temida criatura:


Tapa do Unhudo faz a vítima atravessar o rio Tietê 

Imagine encontrar uma entidade de cabelos longos, chapéu de palha esfiapado, unhas grandes semelhantes a garras e dois metros de altura. Quem quiser ver de perto essa figura fantástica, considerada um morto-vivo e batizada de Unhudo, pode procurá-lo em uma das pequenas grutas do monte Pedra Branca, entre os municípios de Dois Córregos e Mineiros do Tietê. Dentre as lendas, a do Unhudo é a que mais divulgada na região e em todo o estado. 

Tido como benfeitor da mata, ele aparece, de acordo com a lenda, nas imediações da Pedra Branca quando algum intruso resolve colher jabuticabas silvestres e orquídeas naquele local. Mas todas as pessoas que entram na floresta correm o risco de irritar o Unhudo e experimentar seu tapa que costuma arremessar a vítima para o outro lado do rio Tietê. Outra característica da entidade seria repetir a fala cantada dos boiadeiros que frequentavam a região, na hora de tocar os bois. Diz a lenda que quando o boiadeiro gritava – Ôh! Boi!, o Unhudo repetia, como se fosse um eco. 

Um dos ‘causos’ contado na cidade é do lavrador Zé Ramos. Segundo seu filho Neguito Ramos, que mora na zona urbana de Dois Córregos, certa vez seu pai entrou na mata da Pedra Branca para catar jabuticabas silvestres. Quando estava no alto de uma jabuticabeira, ouviu uma voz rouquenha, que lhe disse: Moço, essa fruteira tá reservada pra mim. 

O pai, muito assustado, percebendo que não estava diante de um ser humano e sim de uma entidade perigosa, Zé Ramos sacou sua garrucha e deu dois tiros no perito de Unhudo. As balas atravessaram o fantasma sem fazer nenhum estrago. No mesmo instante Zé Ramos foi atingido por um tapa do morto-vivo, perdendo os sentidos. 

Dois dias depois, o lavrador foi achado no bairro Contendas, que fica próximo do loteamento Docemar, na margem do rio Tietê. De acordo com o filho, Zé Ramos, depois do episódio, nunca mais foi o mesmo. Se tornou um homem abatido, tanto que a palavra Unhudo passou a ser evitado em sua casa, pois toda vez que isso acontecia, ele se emocionava e ia às lágrimas.


Fratura no braço

Outra aparição do Unhudo aconteceu em 2000, na beira do rio Tietê, mais exatamente na fazenda Água Vermelha. O pescador Pacílio Inácio Cardoso, conhecido como Cardosinho. Segundo ele mesmo contou, em uma tarde, decidiu ir colher orquídeas na mata do monte Pedra Branca. Dois amigos o acompanharam e ficaram na beira da mata desafiando o Unhudo, enquanto que ele entrou. 

O Unhudo teria saído de um buraco existente na pedra e o agrediu por trás. Ele lembra que antes de ser atacado percebeu que não estava sozinho no mato, mas não teve tempo de virar o corpo e nem viu o Unhudo, pois tomou um tapa forte nas costas que o jogou violentamente no chão. Ele sofreu fratura exposta do braço direito. 

Seu gritos de socorro levaram os amigos dele ao local. Foi encaminhado para a Santa casa de Jaú, onde foi submetido a uma cirurgia. 


Documentário

Despretensioso. Talvez esse seja o adjetivo mais correto para designar o projeto a que deram vida o professor Carlos Carvalho Cavalheiro e o advogado Ricardo Conrado Schadt ao filmar um documentário sobre uma das lendas mais curiosas do Estado de São Paulo: a do Unhudo da Pedra Branca, dos municípios de Mineiros do Tietê e Dois Córregos.

Captando imagens com poucos recursos e equipamentos, tiveram como resultado um trabalho sincero e honesto, que mostra como as duas cidades vizinhas dividem a mesma lenda. Em Dois Córregos, o Unhudo é visto como protetor da natureza, uma espécie de Curupira, que protege as frutas, as matas e os animais. Em Mineiros do Tietê, o Unhudo é um "corpo seco", nome dado a pessoas ruins, cuja maldade impede que seus corpos entrem em putrefação após a morte. Nem a terra os aceita e por isso vagam como almas penadas. Nessa cidade, anualmente, ocorre a cavalgada noturna para a "caça" ao Unhudo.

Filmado em 16 e 17 de dezembro de 2011, em ambas as cidades, o documentário "Em busca do Unhudo" mostra o depoimento de intelectuais, pesquisadores, e pessoas do povo; transmitindo uma dinâmica de investigação de quem sai de uma cidade e pega a estrada "em busca" da verdade. Essa impressão é reforçada com as imagens de automóvel que se desloca por rodovias e estradas de terra. Ao fundo, a trilha sonora composta especialmente para o documentário.

Assina a direção, roteiro e trilha sonora Carlos Carvalho Cavalheiro e a produção de Ricardo Conrado Schadt. A edição é de Cleiner Micceno, Cavalheiro e Schadt. A trilha sonora é cantada por Jacque Fall e as ilustrações para o documentário foram feitas por Waine Martins.

Assista abaixo o documentário:

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