Interior do Paraná esconde diversas histórias sobrenaturais

quinta-feira, 27 de maio de 2021

Interior do Paraná esconde diversas histórias sobrenaturais

Araucárias em noite de lua cheia, árvore é considerada símbolo do Paraná.


Histórias contadas nas varandas das casas, causos transmitidos entre gerações, lendas que se perpetuaram na tradição do Paraná e de suas cidades.

O imaginário popular dos paranaenses é rico, cheio de histórias dos mais diversos gêneros: para assustar, para impressionar, com fundo romântico ou sobrenatural, nascidas no campo ou entre os indígenas.

O velório da virgem noiva (São José dos Pinhais - PR)


São José dos Pinhais, 1928. Dois compadres muito engraçados iam a todos os velórios para distrair parentes e amigos dos finados. Certo dia faleceu uma moça de idade, muito séria e moralista. Durante o velório, um dos compadres cochichou com o outro: será que era virgem mesmo? 

Por volta da meia-noite, o homem foi acometido por uma dor de barriga e foi até um bosque próximo. Quando voltava, viu a noiva toda de branco, que disse: ainda duvida de mim? Assustado, o compadre correu para a casa e disse ao amigo: não devemos brincar com quem já morreu.

Assombração da antiga Serrinha (Jaguariaíva - PR)


Na antiga estrada que dava acesso a Jaguariaíva, havia um trecho embaixo da serra que diziam ser mal assombrado depois que anoitecia. 

Certo dia, um senhor foi pescar em um rio, ao voltar por volta das 23 horas da noite, percebeu que alguém montou na garupa do seu animal, ao olhar pra trás não viu ninguém, mas sentiu estranhos arrepios na nuca e um peso muito grande, fazendo o animal andar mais lentamente, passou por várias porteiras até que ao passar por uma delas recebeu um tapa no rosto no exato momento em abria um portão. "Bate outra vez seu maldito, se tiver coragem", disse o homem, que levou outro tabefe. O homem não se acovardou e continuou desafiando o fantasma, até que na quarta vez ele sentiu algo saindo da garupa do seu animal e viu um homem aparecer próximo dele dizendo: "Embaixo da tronqueira do portão existe um pote de moedas de ouro, tire que é todo teu", desaparecendo misteriosamente. Ao tirar a tronqueira, lá estava o pote. Dizem que dali em diante sumiu a assombração do local, pois a alma penada estava aprisionada em bens materiais e se libertou.

Baile dos Mortos (Arapoti - PR)


Em uma noite, um vaqueiro passava próximo a uma fazenda em Arapoti e ouviu sons de música ao longe. Cavalgando por mais de uma hora pela mata, não encontrou casa alguma, muito menos um baile. Chegou a um pequeno rancho, onde foi acolhido por um velho senhor. 

Perguntado se não havia algum baile por ali, o ancião relatou que há muitos anos existia ali uma fazenda. A cada passagem de ano acontecia um grande baile de gala, até que houve uma briga e morreram muitos dos que participaram. Daquele dia em diante, toda noite de passagem de ano ouvem-se a música e gritos de socorro.

Fantasma do Trevo (Lapa - PR)


Segundo contam, depois das 22h muitas pessoas já avistaram no trevo principal de acesso à Lapa uma mulher bonita pedindo carona para entrar na cidade. Pensando estar fazendo uma ato de bondade, muitos motoristas já pararam e ofereceram carona para a tal moça. Ela sempre diz que precisa ir até um local próximo ao cemitério central da cidade.

Conforme o que o povo conta, logo após a entrada da moça no carro os motoristas começam a sentir um cheiro muito forte de coisa podre. Quanto mais próximo do cemitério o carro fica, mais forte é esse cheiro. Quando o motorista chega na esquina do cemitério a tal moça misteriosamente some do carro, assim como o cheiro ruim de podridão.

A menina só é vista novamente na noite do outro dia, no trevo, pedindo mais uma carona

O Fantasma do Chapéu (Nossa Senhora das Graças - PR)


“No ano passado (2020), trabalhava de tratorista na usina Alto Alegre. Trabalhávamos em um lote, fomos para o outro e fui sozinho com o trator. Estava em Lobato e fui para Nossa Senhora das Graças - PR em outro arrendamento da usina. Geralmente, a gente trabalhava em quatro tratoristas, mas eu fui sozinho. O meu turno era o da madrugada”.

O início do causo do operador de máquinas agrícolas, João Paulo de Andrade, não aparenta introduzir nada que esteja distante da rotina de outros inúmeros trabalhadores rurais do Norte do Paraná. Porém, costumam dizer que “o medo não é do escuro, mas sim do que ele pode esconder”.

João trabalhava direto em seu turno da madrugada. Deixava para cumprir o tempo de intervalo no final da labuta. Aproveitava para descansar no fim do turno e já seguir de volta para casa. A prática deixava o trabalho repetitivo ainda mais desgastante. “Cheguei lá e outra equipe de trabalho esparramava vinhaça na cana cortada. Fui pro trator pra ‘enleirar’ a palha. Fui avisar o líder e ele me disse ‘então, você está sozinho? Tome cuidado’. Não dei importância. Fiz a volta e peguei do outro lado do lote, na beira da mata. Isso já era umas 3h da manhã. Eu ia, fazia o virador na estrada de cana e voltava na de baixo. Lá pelas 4h da manhã, eu já estava com muito sono. Dei uma cochilada e despertei com um velho de chapéu na frente da roda do trator. Freei assustado. Quando fui procurar, não tinha ninguém por perto. Estava sozinho no lote. Precisei parar para jogar água no rosto”.

Apesar de ter visto o “colega” de trabalho inesperado, o trabalhador não pôde parar de trabalhar. Após o primeiro espanto, veio a confirmação. “Me assustei muito na hora, mas passou. Voltei com a certeza que era apenas o sono, mas, ainda sim, com medo. Foi só voltar no mesmo lugar da primeira aparição que voltei a ver o velho de novo. Foi bem na roda do trator, pensei até que ia atropelar o velho. Chamei ‘Bruninho’ no rádio e perguntei se ele ia demorar. Chamei ele para terminar o serviço ali e dei um ‘migué’, né? Falei pra ele terminar o serviço por mim, porque o meu trator era muito grande e atropelaria as ruas de cana”.

Desculpas à parte, João não conseguiu disfarçar que havia entrado em contato com algo. Para a sua maior surpresa, ele não estava louco ou apenas morto de sono. O que presenciou era uma figura conhecida de outros funcionários da mesma função. “Quando ele chegou, já tava rindo da minha cara. ‘Ué, João, seu trator não é tão grande não, dá pra fazer aqui, sim. Você viu alguma coisa?’. Perguntei como ele sabia e contei a história do velho. Ele disse que já tinha certeza disso. Todo tratorista que trabalha ali de madrugada vê esse velho no mesmo lugar”. João afirma que no campo, é comum que se presencie histórias e tenha contato com o sobrenatural – diretamente ou por meio de causos contados por outros trabalhadores. Até hoje, a aparição do velho na zona rural de Nossa Senhora das Graças segue sem explicação.

A Noiva Entristecida (Colorado - PR)


Cerca de 10km de distância da cidade, o distrito de Alto Alegre, em Colorado, também registra uma lenda muito conhecida. A igreja abandonada no meio da estrada é famosa pela história da noiva fantasma. Antônio Paulo de Andrade também trabalhava de tratorista na região. O homem garante que os moradores do distrito evitam, de todo jeito, passar por ali após a retirada do sol. “Tava tudo certo pra casar. O noivo a abandonou na igreja. O cara não chegou pra acertar todo o casamento. ‘Ela ficou desgostosa’. Se enforcou em uma árvore no fundo da igreja, num é? Agora, ela sempre caminha em volta da igreja. E aí, eu trabalhando, gradeando, tampando, dá maior medo. Eu nem olhava pro lado. Chega arrepio inteiro de medo. Só trabalhava com outro funcionário lá. Tinha medo era demais. Não tinha coragem. Ela era uma moça tão bonita. Linda, linda, linda. A maioria de Alto Alegre nem anda por lá à noite, porque ela aparece”, afirma.

O Coqueiro Torto (Divisa de Colorado - PR com Nossa Senhora das Graças- PR)


Histórias sobrenaturais não faltam na região. Entre os dois municípios, existia um coqueiro torto. A árvore – também assombrada, segundo relatos – tinha o formato de espiral. Moradores antigos das redondezas afirmam que o local do coqueiro já foi utilizado para desova de corpos, por isso, passou a existir algo aterrorizante no ambiente. Outra versão constata que um suicídio que amaldiçoou o local. A população também buscava evitar o caminho durante à noite. A árvore balançava sozinha, mesmo sem vento algum. Vozes estranhas podiam ser ouvidas ali por perto. O coqueiro morreu e sobraram só as escoras, feitas para sustentar a árvore. Coincidência ou não, os restos do coqueiro estão posicionados em formato de cruz.

Luz Misteriosa da Estrada (Cambé - PR)


Assim como a literatura, a tradição oral – mesmo que de forma fantástica – apresenta traços importantes para a interpretação do contexto social de uma determinada época. Os famosos causos costumam apresentar traços que podem identificar costumes, tradições e diferente formas de se viver. Contos rurais, indígenas e urbanos não tratam apenas de realidades misteriosas, sem espaço para céticos. Até aqueles que duvidam de tudo que não seja palpável podem encontrar explicações plausíveis sobre vivências passadas, em forma de causos.

O jornalista Francismar Lemes trabalhava no antigo Jornal de Londrina. Na época, o periódico publicava uma série especial, toda quaresma, sobre causos surreais do imaginário popular londrinense. Batizado como “Lua cheia”, o projeto fez sucesso por vários anos. O repórter cobriu vários desses casos e destaca a importância das histórias sobrenaturais. “Na sociedade, o místico é algo muito importante. Isso te forja, isso te forra. É importante você ter um escape da nossa dura realidade e viver uma realidade diferente. O fantástico tem relação direta com o que vivemos e nos influencia o tempo todo”, afirma o jornalista.

Assim como a história de João, uma das histórias mais marcantes para Lemes foi uma história que se passa no meio rural. “Na estrada da Prata, em Cambé, o povo tem muito medo de circular por ali à noite. Os moradores veem uma luz estranha pela estrada, outros são perseguidos por ela e fogem, um dos relatos diz que por volta das 22 horas da noite a luz parou ao lado do seu carro e se apagou misteriosamente. Em outro caso pescadores estavam voltando da pescaria, a misteriosa luz apareceu ao lado do carro e desapareceu repentinamente, os pescadores notaram no mesmo instante que todas suas varas estavam completamente quebradas. 

Quando Fomos fazer uma matéria de gastronomia em um restaurante e, na volta, fomos cobrir a história. Chegamos no local à meia-noite. Coincidentemente, passamos na ida em frente a uma árvore na beira da estrada. Aquelas desgalhadas, típicas de filmes de terror. Quando voltamos, ela estava em um lugar completamente diferente. A mesma árvore, não tinha dúvidas, mas ela estava do outro lado da estrada. No fim da estrada, o rádio também perdeu o sinal”.

A árvore indecisa com o lugar que deveria cravar sua raiz não chega a ser o ápice da história. O jornalista foi investigar o local. Ao falar com a população local, descobriu estar mais conectado com a matéria do que imaginava. “A história que contaram para gente é de um caminhoneiro desceu na estrada para conferir alguma coisa na carga de toras que carregava. As toras enormes se soltaram e caíram no motorista. Ele morreu esmagado. Lembrei que tinham me contado essa história na infância, sem mais detalhes. Meu tio havia me contado. Depois que fiz a matéria, em um encontro com o meu tio, a história veio à tona. Eu disse que tinha feito a reportagem e contei detalhes. ‘Em qual estrada foi isso?’, ele me perguntou. Quando disse que era na estrada da Prata, ele me contou que a história era familiar. O motorista morto, na verdade, era irmão do meu tio. Esse é um causo que estava dentro da minha família e descobri por causa da série”.

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