Wolfwalkers, animação do Oscar traz versão irlandesa da lenda do lobisomem

terça-feira, 4 de maio de 2021

Wolfwalkers, animação do Oscar traz versão irlandesa da lenda do lobisomem

 

Uma das melhores animações do ano vem da Irlanda. Vem de lá não somente porque é realização do estúdio Cartoon Saloon, da cidade de Kilkenny, mas porque se assenta nas lendas de lobisomens que povoam a mitologia celta e até certos relatos históricos. Os lobisomens irlandeses não se transformam nas noites de lua cheia, mas seus espíritos abandonam os corpos durante a noite em forma de lobos enquanto seu formato humano continua dormindo tranquilamente.

Wolfwalkers é o terceiro filme da trilogia de Tomm Moore e Ross Stewart sobre o folclore irlandês. Foi antecedido por Uma Viagem ao Mundo das Fábulas (2009) e A Canção do Oceano (2014), ambos indicados ao Oscar. Desta vez a dupla não só disputou novamente o Oscar, como era o único filme que tinha chances reais de vencer Soul, da Disney/Pixar. Um dado curioso é que ambos os filmes tratam de espíritos em trânsito entre dimensões diferentes.


A história se passa na mesma Kilkenny em 1650. O Lorde Protetor, foi inspirado no líder militar inglês Oliver Cromwell (1599-1658). Além do visual ser inspirado nele, muitas semelhanças se fazem presentes, como o fanatismo religioso e o desmatamento exagerado que dominou sua ditadura, que fez com que os lobos entrassem em extinção na Irlanda, onde o desmatamento foi tão grande que restou apenas 2% de área florestal no país inteiro. Outro detalhe realista mostrado no filme, foi a xenofobia que os ingleses sofriam pelo povo irlandês durante o seu governo.  

A aventura tem um fundo metafórico sobre a história da Irlanda. Os lobos representam o espírito indomável da Irlanda pré-colonial. Cromwell foi figura instrumental no projeto de "modernização" do país mediante o combate à monarquia, ao catolicismo romano e às superstições populares. No filme, o Lorde Protetor ainda acumula a vilania muito contemporânea de Nero da floresta. A pequena Robyn, ao se transformar numa wolfwalker e passar de caçadora a caçada, experimenta os dois lados da situação colonial.


Wolfwalkers segue a história de Robyn Goodfellowe, uma jovem aprendiz de caçadora que chega à Irlanda com seu pai durante uma época de superstição e magia para acabar com a última matilha de lobos. Enquanto explora as terras proibidas fora das muralhas da cidade, Robyn faz amizade com uma garota de espírito livre, Mebh, um membro de uma tribo misteriosa que dizem ter a habilidade de se transformar em lobos durante a noite. Enquanto procuram a mãe desaparecida de Mebh, Robyn descobre um segredo que a atrai ainda mais para o mundo encantado dos Wolfwalkers e corre o risco de se transformar na mesma coisa que seu pai tem o dever de destruir.

O filme é um conceito original criado por Moore e Stewart, e sua animação usa um estilo 2D único, alternando entre uma estética de blocos de madeira e um trabalho de linhas expressivas soltas. São como se fossem dois filmes em um só, a estética de blocos é usada no cenário que representa a cidade, passando um ar de sufocamento no telespectador, enquanto as cenas na floresta possuem traços livres, passando a sensação de liberdade.

O filme recebeu diversos prêmios no Annie Awards 2021, considerado o Oscar da animação, perdendo apenas para Soul, da poderosa Disney/Pixar. Foram 5 prêmios na cerimônia: Melhor Animação Independente, Melhor Design de Personagens, Melhor Design de Produção, Melhor Atuação de Voz e ainda tirou das mãos de Soul o cobiçado prêmio de Melhor Direção.

Wolfwalkers está disponível na Apple TV+.


Confira o trailer:

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