A Floresta das Árvores Retorcidas, terror leva H.P. Lovecraft para o interior paulista

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

A Floresta das Árvores Retorcidas, terror leva H.P. Lovecraft para o interior paulista


Nesta obra de horror cósmico intitulada A Floresta das Árvores Retorcidas, Alexandre Callari se apropria dos Mitos de Cthulhu, do cultuado H.P. Lovecraft, e os introduz em um contexto brasileiro na década de 1990, para criar um universo de ambientes híbridos, com espíritos, evocações, rituais místicos, raças perdidas e seres inimagináveis. Repleto de referências à cultura pop e ao mundo do terror em particular, o livro presta homenagem aos antigos pulps e ao maior expoente de terror que eles produziram.

Após um conturbado divórcio, Adam decide tirar um período sabático e se afastar de tudo e de todos que conhece, buscando refúgio em uma pitoresca cidade do interior paulista, onde a estranheza parece ser a norma vigente. Lá, ele logo é jogado em uma trama de bizarros acontecimentos que envolvem não só toda a população, como também criaturas apocalípticas de outra dimensão. 



Esta edição se propõe a lançar o melhor da literatura e dos quadrinhos de autores nacionais, sempre com a qualidade editorial e o acabamento gráfico à altura das obras e do desejo dos fãs. Com 420 páginas em papel polén soft, a aterradora história ganha contornos ainda mais macabros com as ilustrações de Doug Firmino. A capa dura com verniz e corte trilateral vermelho foi criada pela artista Giovanna Cianelli, inspirada nas clássicas revistas pulps da década de 1930 e nos filmes de terror dos anos 1970, influências nas quais o autor também bebeu para desenvolver sua trama.

O romance é o primeiro livro de um selo de originais da editora Pipoca & Nanquim, que já conta com lançamentos de Pedro Duarte, Bianca Pinheiro, Greg Stella e Jefferson Costa. Segundo Callari, foi justamente por orientação dos editores Bruno Zago e Daniel Lopes que a trama se passa no início da década de 1990, acentuando a sensação de isolamento do personagem, alijado do contato com o mundo exterior à cidade.

A solução paliativa que o protagonista encontra para sua crise existencial é se mudar de uma metrópole para uma cidadezinha fictícia na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, onde a mentalidade dos nativos da cidade lembra muito o poder de atração das seitas, existe um culto na cidade e os moradores podem estar impressionáveis por passarem muito tempo nos rituais ou podem estar sendo controlados por uma força sobrenatural.


A principal influência de Callari é a obra de H.P. Lovecraft (1890-1937). “Decidi fazer algo que, mesmo em vida, ele incentivava: escrever histórias dentro da sua mitologia. Tentei trazer para nossa realidade em uma cidadezinha de interior, com elementos reconhecíveis, carros que conhecemos, pôsteres de duplas sertanejas, mas que seria tão afastada e povoada por pessoas tão bizarras que eu poderia fazer essa junção sem que ficasse deslocado”, conta ele.

O que começa com aparições no apartamento de Adam evolui em uma crescente de morbidez, encadeando acontecimentos macabros até chegar à raiz do mal – não apenas na cidade, mas na essência da humanidade. A mitologia lovecraftiana fica mais clara quando o livro apresentar ao leitor Nyarlathotep, uma deidade proveniente do universo ficcional de Lovecraft. “Há tanto pelo que amar o homem quando se é um arauto do caos”, pondera a divindade.

Os personagens de Callari, portanto, não lidam apenas com feras, fantasmas ou assombrações. Eles são forçados a encarar entidades para além do tempo e do espaço, seres tão grandiloquentes que suas existências desafiam a compreensão humana. É graças a essa incursão no horror cósmico que o romance dá liberdade para a prosa de Callari exercitar descrições abstratas de seres e sensações inexplicáveis, talvez o ponto alto da obra.

“Parece que todo mundo é dúbio neste lugar”, reclama Adam, ao perceber como os habitantes tentam ignorar as excentricidades sobrenaturais do vilarejo. Mas ele não estava a salvo dessa indiferença: quanto mais exposto a eventos insólitos, maior sua capacidade de assimilá-los. “Ocorreu-lhe que, por algum motivo, vinha aceitando bem demais todas as ocorrências inexplicáveis que permeavam cada centímetro daquele lugar. (...) Naquela cidade, era como se uma natureza mística e excelsa estivesse impregnada em todas as coisas, nos objetos, animais, fatos e na mente das pessoas, mesmo na dele ali parecia um universo à parte, onde o fantástico reverberava num mar de improbabilidades e tornava tudo corriqueiro; onde nada parecia fazer sentido, exceto que fazia.”


O Autor


Alexandre Callari ficou conhecido como um dos apresentadores do trio que encabeça o canal de YouTube e editora Pipoca & Nanquim, mas sua variada carreira engloba outras áreas. Trabalhou como editor da DC Comics no Brasil entre 2011 e 2018, período em que foi responsável pelas revistas de diversos heróis, com destaque para as séries do Batman. Traduziu mais de trinta livros de ficção e não ficção e centenas de histórias em quadrinhos, sendo também um apaixonado pela nona arte e colecionador de mão cheia. É o autor da trilogia de terror Apocalipse Zumbi, coautor da série Quadrinhos no Cinema, junto de seus amigos do PN, Bruno Zago e Daniel Lopes, e de Branca de Neve: Os Contos Clássicos, em que apresentou sua própria versão da famosa fábula, todos lançados pela editora Generale.

Ao lado do diretor Rodrigo Aragão, coescreveu o curta‑metragem Revelações de um Cineasta Canibal e o longa A Mata Negra. Entre suas vertentes menos conhecidas, foi músico profissional dos anos 1990 a 2000, época em que gravou diversos álbuns com sua banda de heavy metal, Delpht, e é faixa preta em jiu-jítsu, atuando como professor até hoje.

Atualmente, também está trabalhando no roteiro de sua própria história em quadrinhos, Arena, que está prevista para ser lançada pelo selo Original Pipoca & Nanquim em novembro de 2020.

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