O homem que ousava fotografar os espíritos

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

O homem que ousava fotografar os espíritos


William Mumler marcou seu nome na história da fotografia americana por um motivo bastante peculiar: as lentes de sua câmera eram capazes de registrar fantasmas. Não à toa, ele ficou conhecido como “o fotógrafo dos espíritos” — e até hoje ninguém conseguiu desvendar o “mistério” por trás de seus cliques.

Entre os registros mais famosos feitos pelo fotógrafo, está a imagem de Mary Todd Lincoln (1818-1882), ex-primeira dama dos Estados Unidos, sentada em uma cadeira com a imagem fantasmagórica de seu marido, o ex-presidente Abraham Lincoln (1809-1865), atrás dela. A imagem foi feita em 1872.


Após a morte de seu filho, Willie, Mary Todd se voltou para o espiritualismo, um movimento religioso baseado na crença de que interações entre vivos e mortos seria possível. Foi do espiritualismo que nasceu o espiritismo como conhecemos hoje.

Além disso, a Guerra Civil Americana (1861-1865) deixou milhares de mortos e urgiu nos americanos um desejo nunca antes vivido de se conectar com aqueles que já haviam partido.

Foi nesse contexto, que Mumler conseguiu espaço para suas fotografias misteriosas. Estabelecidos em Boston, ele trabalhava com sua esposa, Hannah, que também era fotógrafa além de ser médium. Foi ela quem identificou o espírito de uma prima de William em uma foto dele. Na época, o fotógrafo afirmou que estava sozinho em seu estúdio, treinando técnicas para fazer autoretratos, quando o clique de outro mundo aconteceu.


A partir daí, o casal passou a tirar centenas de fotos em que espíritos de familiares, amigos ou até desconhecidos eram registrados ao lado de clientes vivos.

É claro que o mistério atraiu céticos e desconfiados, que passaram a tentar descobrir como os Mumlers faziam isso. A perseguição em Boston levou o casal a se mudar para Nova York no fim dos anos 1860.

Em abril de 1869, Mumler foi levado ao tribunal por fraude. Entre as testemunhas de acusação, estava o empresário circense P.T. Barnum, aquele vivido por Hugh Jackman no filme “O Rei do Show”.

Segundo a acusação, Mumler se aproveitava do luto vivido por seus clientes para tirar vantagem dele. As fotos seriam registros feitos se valendo de jogos de iluminação que usavam pessoas fantasiadas. A defesa argumentou que a engenhosidade humana pode fazer todas essas coisas que uma geração atrás teria parecido pura magia.

Mumler foi inocentado porque a promotoria não conseguiu comprovar que ele, de fato, havia fraudado as fotos, pois não tinha flagrante ou evidências concretas das fraudes.

Mumler foi absolvido e voltou para Boston. Ele se esquivou da fotografia de espíritos e concentrou seus esforços na química do desenvolvimento de fotos. Ele acabou inventando uma técnica chamada “processo Mumler” que permitiu que as primeiras fotografias fossem impressas em papel de jornal, transformando a prática do jornalismo.

Mas antes de Mumler pendurar o chapéu para sempre como o fotógrafo de espíritos mais famoso do mundo, ele recebeu ninguém menos que Mary Todd Lincoln em seu estúdio em Boston. Era 1870, cinco anos após o assassinato de seu marido. Apesar das acusações de fraude contra Mumler e outros médiuns espirituais, americanos como a ex-primeira-dama, ainda em luto profundo, queriam acreditar.

O famoso retrato de Mary Todd Lincoln feito por Mumler mostra a diminuta viúva vestida de preto, suas pequenas mãos cruzadas no colo, enquanto atrás dela está a aparição alta, esbelta e barbuda de seu marido caído.

“Foi a última foto dela tirada em sua vida”, diz Manseau. “Ninguém poderia dissuadi-la de que isso não significava que Abraham Lincoln ainda estava ao seu lado.”

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