Luca, conheça as lendas italianas escondidas no novo filme da Disney

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Luca, conheça as lendas italianas escondidas no novo filme da Disney

 
Nesse mês os assinantes do Disney+ tiveram uma agradável surpresa com o lançamento do longa-metragem Luca. Conduzida pelo diretor italiano Enrico Casarosa (do curta-metragem La Luna), a animação da Pixar traz uma nova aventura de amizade e confiança, agora ambientada nas nostálgicas ruas italianas da fictícia Portorosso e trazendo várias referências à milenar cultura europeia.

O filme se passa durante o verão de uma pequena cidade da Riviera italiana entre as décadas de 1950 e 1960. Ele conta a história de Luca e Alberto – dois monstros marinhos que assumem uma forma humana quando saem do submundo aquático onde habitam.


Por mais que a animação tenha sido feita nos estúdios do Mickey, a equipe por trás é especialista no assunto: Casarosa é italiano; Daniela Strijleva, produtora do filme, também morou por lá, e toda a inspiração para o cenário vem de Cinqueterre, um conjunto de cinco minúsculas vilas históricas no litoral noroeste do país.

Casarosa cresceu na cidade portuária de Gênova, e passou os verões de sua juventude na região litorânea. E foi daí que saíram as inspirações mais curiosas do filme: as lendas e criaturas mitológicas do país.

A ideia de juntar Itália e criaturas mitológicas não foi à toa: toda a região litorânea do país possui dezenas de lendas sobre monstros marinhos. “Em Cinqueterre, por exemplo, sempre existiram lendas do tipo ‘não vá para aquele canto, tem um monstro ali'”, disse Enrico.

O Polvo de Tellaro


Nem todas as lendas que ele ouvia, claro, eram feitas para afastar crianças. O cineasta lembrou também do conto de Polvo de Tellaro, outra vila litorânea próxima a Cinqueterre. Reza a lenda que Tellaro era encarregada de proteger a região de piratas. Toda vez que um navio pirata era avistado no horizonte, o sino da igreja tocava – e os moradores se preparavam para defender a cidade.

Contudo, em uma madrugada de tempestade, quando menos se esperaria um navio, toda a vila acordou com o barulho do sino. Ao olhar para a igreja, os moradores teriam visto um polvo tocando o sino. Era um alerta para a chegada dos piratas.

É por isso que o polvo é considerado o protetor de Tellaro. A cidade é cheia de referências ao animal: azulejos, maçanetas, placas e, claro, lembrancinhas.

O Protetor de Colapesce


Outra história que inspirou Casarosa a lenda de Colapesce, uma das mais populares da Itália – tão famosa e disseminada pelo país que cada região tem uma versão ligeiramente diferente. A mais interessante que encontrei foi a da Sicília, a ilha que fica bem no bico da bota.

A história é sobre um menino chamado Nicola (apelidado “Cola”), que vinha de uma família de pescadores de Messina, uma cidade litorânea da ilha. Ele gostava tanto do mar que passava o dia inteiro na água e, por isso, aprendeu a segurar a respiração por muito tempo e a nadar como um peixe – daí o nome Colapesce.

Os rumores sobre as habilidades do menino chegaram até o imperador Frederico II, que governou o Sacro Império Romano Germânico entre 1220 e 1245 (essa parte da história é verdadeira). Frederico também foi rei da Sicília, e ficou tão interessado em Nicola que resolveu testar o garoto.

Segundo a lenda, o imperador fez Nicola buscar objetos preciosos jogados na água. Primeiro, uma taça; depois, sua coroa. Por último, um anel. Nicola voltou com a taça e a coroa, mas nunca voltou para a superfície depois de ter mergulhado para pegar o anel.

A história diz que o menino encontrou os três pilares que sustentam Sicília, e viu que um deles estava quase desmoronando. Para salvar a ilha, ele substituiu o pilar com o próprio corpo, e dizem que até hoje está segurando o pedaço de terra. Ou seja: Nicola está para Sicília assim como o titã Atlas, da mitologia grega, está para a Terra.

A Pequena Sereia


O diretor de Luca não foi o único inspirado pelas lendas marítimas italianas. Hans Christian Andersen, autor de diversos contos infantis, estava pertinho de Gênova e Cinqueterre quando escreveu A Pequena Sereia. 

A cidade de Sestri Levante possui um festival anual dedicado ao autor, devido à paixão que ele tinha pela cidade. Segundo Enrico, o clássico infantil também inspirou a história do novo filme. Inclusive os poderes dos monstros marinhos de se transformar em humanos fora da água é idêntico ao de Ariel.

A Carta Marina


Outra referência usada para a criação dos seres marinhos foi a Carta Marina, um dos mapas mais antigos e precisos da península escandinava. Ele foi feito em 1539 por Olaus Magnus, um geógrafo e historiador sueco. Colocar criaturas coloridas e engraçadas no mapa talvez não fosse a melhor maneira de guiar os navegadores da época, mas pelo menos ajudou os animadores da Pixar a bolar o visual dos personagens.

Clássicos do cinema Italiano


Assim como a arquitetura da Itália está cheia de referências a suas lendas e tradições, Luca não economiza nos easter eggs. Além das lendas e criaturas marinhas, vale caçar também as outras fontes de inspiração do diretor. Procure por pôsteres de filmes italianos dos anos 1950 e por nomes de grandes diretores de lá, como Federico Fellini e Vittorio De Sica.

Luca cumpre bem a missão de transportar o público para o Mediterrâneo – fruto de muito estudo dos animadores americanos, que fizeram um “workshop” por videoconferência com a equipe da Disney da Itália. No intensivão, eles aprenderam até quais gesticulações das mãos deveriam incluir nos personagens. Estamos falando de italianos, afinal. Capisci?

Confira o trailer:


Fonte: Super Interessante 

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