Assistir filmes de terror aumenta sensação de segurança

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Assistir filmes de terror aumenta sensação de segurança

Cena do terror Annabelle, estudo relaciona o medo proporcionado pela diversão ao escape da vida mundana


Os espectadores chegam com risinhos nervosos e disparam a gritar antes mesmo dos trailers. O burburinho na sala de cinema — lotada principalmente por adolescentes — chega ao ápice quando ela sai da caixa. Todos estão ali para vê-la. Com seu sorriso horripilante estampado no rosto de louça, Annabelle vai garantir muitos sustos pelas próximas duas horas. Essa cena se repete em todo o mundo e, graças à bonequinha possuída, os produtores arrecadaram, até agora, US$ 82,7 milhões. De acordo com o site Filme B, que coleta dados do mercado, a película se tornou a mais vista do gênero no Brasil desde 2000, quando começou esse monitoramento.

Parece — e é — paradoxal. Gastar tempo e dinheiro para passar medo. Ninguém, contudo, é obrigado a isso. “As pessoas vão ver filmes de terror porque querem ser assustadas. Ou, então, não fariam isso duas vezes”, alega o professor de psicologia social Jeffrey Goldstein, da Universidade de Utrecht, no livro Why we watch: the attractions of violent entertainment (Por que assistimos: as atrações do entretenimento violento, sem edição no Brasil), da Universidade de Oxford. “Todos esses efeitos que se sentem num filme desses, de tensão, medo, frio na espinha… O espectador quer aquilo tudo e, se o filme não fornecer essas sensações, ele vai sair frustrado”, observa.

Goldstein acredita que as pessoas gostam do terror ficcional — séries, livros e casas do espanto também foram pesquisadas por ele — movidas por razões diversas. As principais seriam o pico de adrenalina e a distração que isso causa da vida mundana, sentidas de um lugar muito confortável: a poltrona do cinema, bem longe dos fatos encenados na tela. Para o psicólogo Glenn D. Walter, professor da Universidade de Kutztown, no Texas, e também pesquisador do tema, há três fatores principais por trás do gosto por filmes de terror: tensão, relevância e irrealismo.

A tensão provocada por uma boa história de mistério, suspense ou terror não é nova. Sentar-se ao redor do fogo para ouvir relatos apavorantes é um hábito universal e, provavelmente, ancestral, segundo a antropóloga Polly Weissner. Como parte de sua pesquisa de campo, ela investigou o teor da conversa dos membros da tribo africana dos Kalahari, caçadores-coletores que vivem de modo semelhante aos homens modernos do período pré-agrícola. Ela constatou que 81% dos diálogos noturnos versam sobre assuntos sobrenaturais.

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