Conheça o Fofão, figura misteriosa do Carnaval do Maranhão

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Conheça o Fofão, figura misteriosa do Carnaval do Maranhão


Ele é feio, assustador e no Carnaval, a época mais divertida do ano, resolve dar as caras pelas ruas de São Luís. Símbolo do carnaval maranhense, o fofão foi inspirado em personagens do Carnaval europeu, sendo capaz de assustar e divertir ao mesmo tempo.

Muito conhecido no carnaval maranhense, o fofão ganhou fama e conquistou o coração dos apaixonados por carnaval, porém, este personagem está caindo no esquecimento. 

O alerta está sendo feito pelo antropólogo e pesquisador de religiões e cultura popular do Maranhão Sebastião Cardoso Júnior, que revelou que são poucas as pessoas que vestem os trajes coloridos e as máscaras assustadoras brincando o carnaval pelas ruas do Centro Histórico e bairros da cidade. “Quase não se vê hoje fofões durante o carnaval. Diminuiu muito a prática de pessoas que preservam essa tradição. Aqui mesmo na Madre Deus, que é um berço cultural onde haviam muitos, quase não tem mais. Sabemos que ainda existem três grupos de pessoas que se vestem com o personagem. As famílias perderam o interesse pela brincadeira, não se vê mais crianças e nem adultos vestidos nas ruas, isso é muito preocupante”, ressaltou o pesquisador.

Sebastião Cardoso Júnior explicou que, durante o Carnaval, o fofão invade as ruas de São Luís, colorindo a paisagem e alegrando os foliões. Inconfundíveis, eles usam macacões coloridos e folgados, com guizos (que fazem o barulho tradicional que se ouve quando eles passam pelas ruas). Nas mãos, costumam levar uma boneca e uma varinha. Quem pegar nas bonequinhas acaba tendo que pagar algum trocado, senão, fica sendo perseguido até o dia acabar. Em todas as cidades e bairros, sobretudo nos mais tradicionais, é fácil ver adultos e crianças fantasiados com as roupas que caracterizam essa figura durante o período carnavalesco. “Eles costumam alegrar e assustar as pessoas durante o carnaval com suas máscaras uma mais feia do que a outra. A fantasia de fofão costuma obedecer a um padrão, que é o tradicional macacão de chita colorido e máscara horripilante. Nas mãos, uma boneca e uma varinha para afastar os possíveis ataques dos cachorros de rua. A boneca é uma forma de conquistar as crianças, que ficam assustadas com as máscaras, e o dinheiro dos pais delas”, contou o pesquisador. 

Sebastião Cardoso Júnior explicou que, fora algumas poucas iniciativas de órgãos públicos que promovem a confecção de máscaras de fofão como forma de incentivar a preservação da brincadeira, não existe uma política voltada para a conscientização sobre a importância do personagem nas comunidades e bairro de São Luís. Com base nesse protótipo, os brincantes fazem as mais variadas adaptações, buscando personalizar a fantasia. Isso, associado à imensa popularidade do personagem, acabou por promover a industrialização das máscaras. “São poucas as pessoas que se interessam em aprender a fazer estas máscaras de fofão confeccionadas em “papel machê” (técnica que usa cola, jornal e tinta). Esta é uma tradição que está se perdendo para a industrialização com a fabricação de máscaras de látex. É uma tradição que não está sendo valorizada pela sociedade. Isto é preocupante porque o personagem-símbolo que é a cara do Maranhão está sumindo. Hoje a maioria é confeccionado em pano ou borracha, conta Sebastião Cardoso Junior.

Tradição preservada


Como forma de preservar a importância do fofão no carnaval maranhense, os artistas visuais Marlene Barros e Paulo Coelho investiram na confecção de máscaras da brincadeira. Na Galeria do Cofo, no Museu Casa de Nhozinho, espaço ligado à Secretaria de Estado da Cultura e Turismo (Sectur), encontra-se em cartaz a mostra artística O fofão, o artesão e a folia no Maranhão, do artista plástico Paulo Coelho. A exposição ficará aberta à visitação de terça a sábado, das 9h às 18h, e aos domingos, das 9h às 13h, até 28 de fevereiro. Idealizada pela diretora do Museu Casa de Nhozinho, Lilian Brito, e pelo artista plástico Paulo Coelho, a mostra reúne, aproximadamente, 50 máscaras em papel machê com estampas coloridas e divertidas deste personagem popular da “Folia de Momo”. As peças em exposição também serão vendidas com preços que variam entre R$ 25 a R$ 50.

A artista Marlene Barros ministrou, recentemente, a oficina Máscaras de Fofão, na Sala de Artes Visuais do Palacete Gentil Braga (Rua Grande, 782-Centro), com o objetivo de manter viva a criativa tradição do carnaval de rua. As máscaras foram confeccionadas em papel machê, da forma tradicional de confeccionar o adereço, e ficarão expostas no Palacete Gentil Braga. “Quando você aprende e faz a sua máscara, o mais legal é saber que você não vai encontrar ninguém usando uma parecida com a sua. E o fofão é um personagem nosso, por isso temos que preservá-lo”, disse Marlene Barros.

O fofão no contexto do carnaval


Sebastião Cardoso Júnior acredita que a origem do fofão seja africana, e não indígena, como alguns pensam por conta da semelhança das máscaras usadas em algumas festas religiosas, e que os primeiros registros que ele conhece datam do início do século XX. Uma outra versão sobre o fofão no carnaval maranhense tem relação com as que chegaram ao estado por meio dos portugueses, inspirados nos tradicionais bailes de máscara do Velho Continente. Algumas pessoas costumam procurar semelhanças entre o fofão maranhense e os palhaços da Comédia del’Arte. 

Outros ainda com o “Bufão” medieval ou com o “Bobo da Corte”. Mas, semelhanças e diferenças à parte, o fofão é uma das figuras mais emblemáticas do carnaval maranhense. Já o teatrólogo e pesquisador Domingos Tourinho acredita que o fofão maranhense foi inspirado em personagens do carnaval europeu e trazido pra cá pelos portugueses. E apesar de muitas mudanças e de menos foliões vestindo a fantasia nas ruas, a essência dessa figura do carnaval ainda resiste.

Fonte: O Imparcial

Um comentário:

Leon Leonidas disse...

Discordo do senhor Sebastião. Embora as máscaras não estejam sendo feitas a mão, elas ainda são produzidas e o fofão segue existindo. Eu diria que isso é mais a cultura se renovando, que morrendo.

Muito legal a matéria!