Dica de filme: Sob a Sombra

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Dica de filme: Sob a Sombra


Sinopse

Teerã, 1988. A guerra entre Irã e Iraque ressoa pelo seu oitavo ano. Uma mãe e sua filha ficam pouco a pouco dilaceradas com as campanhas de bombardeio sobre a cidade junto com a sangrenta revolução do país. Com os terrores da guerra chegando cada vez mais perto do seu apartamento, o vento traz consigo seres milenares que se alimentam da dor e do sofrimento.



Ficha Técnica

Título Original: Under The Shadow
Ano: 2016
Duração: 84 min
Idioma: Língua persa
Direção: Babak Anvari
Elenco: Narges Rashidi, Bobby Naderi, Arash Marandi 
Gêneros: Terror e Suspense
Nacionalidades: Reino unido, Jordânia, Qatar e Irã
Classificação Indicativa: 14 anos


Curiosidades

- Ganhador de diversos prêmios, entre eles o de Melhor Filme da mostra New Visions do Festival de Sitges (o mais famoso evento de cinema fantástico do mundo), e de vários BIFAs (prêmio do cinema independente do Reino Unido) de Melhor Roteiro, Atriz Coadjuvante e Diretor Estreante.

- Esse é o primeiro filme do diretor iraniano Babak Anvari.

- Representante do Reino Unido na seleção para o Oscar 2017 de Melhor Filme Estrangeiro.

- No Brasil o filme chegou em janeiro de 2017 diretamente na Netflix.

- O filme conseguiu obter a excelente porcentagem de 98% de aprovação pela crítica especializada no site Rotten Tomatoes, o maior site de críticas do mundo, poucos filmes conseguiram essa façanha. Como comparação o recente filme de terror "O Chamado 3" até o momento está com apenas 6% de aprovação e o queridinho do Oscar, o premiadíssimo musical "La La Land: Cantando Estações" está com 93%.


Crítica


Sob a sombra da opressão


Tem gente que usa como argumento para justificar seus medos de filmes de terror a frase: "a vida já é assustadora demais", esse filme sem dúvida foi feito para essas pessoas.

A obra feminista se passa dentro do apartamento de uma tradicional família iraniana. Em meio aos terrores da guerra pós-revolucionária de Teerã na década de 1980, o ex-estudante de medicina Shideh está impedido de retomar seus estudos por causa de seu envolvimento no passado com grupos contrários ao governo teocrático islâmico. Então tem que se contentar em ser uma simples dona de casa a serviço do marido que ainda diz "talvez fosse melhor assim", quando descobre que sua esposa não poderia estudar. Eles tem uma filha (excelente atuação mirim), que deposita todos os seus medos e anseios em uma boneca de pano e passa a ficar desesperada quando ela desaparece, uma clara alegoria que simboliza a infância perdida. (Spoiler: Repare como a mãe guarda um dos livros de medicina trancado em uma gaveta, mesmo tendo perdido a oportunidade se estudar, ela ainda mantém a esperança e o livro fica escondido caso a polícia religiosa tente confiscar, nos momentos finais do filme o mesmo acontece com a boneca de pano, que agora aparece destroçada e dentro de uma gaveta, uma inteligente referência simbólica a infância perdida e trancafiada da garotinha, embora a mãe tente consertar isso não dá muito certo na cena final do filme).

O terror sobrenatural começa bem devagar, com pequenos acontecimentos estranhos que acontecem apenas com a criança e quem leva a culpa são os djinns (os famosos Gênios da Lâmpada), criaturas do folclore árabe, retratadas no Alcorão. Elas são descritas como criaturas que são trazidas pelo vento e vivem apenas em lugares caóticos, pois elas se alimentam da dor e do sofrimento das pessoas, podendo ganhar a forma do que elas quiserem para assustar. Quando a guerra começa a ganhar forma o terror sobrenatural passa a crescer junto com ela, quando um míssil cai no prédio uma fenda surge no apartamento e passa a funcionar como um portal para essas criaturas, o filme tem muitas cenas para fazer pular da cadeira. Porém sem deixar a história de lado.

Com uma tensão sufocante que dura até os seus momentos finais e não abrange apenas o sobrenatural, como também passeia pela tensão natural da guerra, da repressão das mulheres, da religião e faz uma excelente ligação entre eles, até o ponto em que a ficção começa a se misturar com a realidade, criando um verdadeiro delírio coletivo, semelhante ao fanatismo religioso presente na realidade daquelas pessoas. Em uma das cenas onde a protagonista vai até a polícia para fugir da assombração, acaba detida e um dos policias ainda usa a frase "Estamos na Suíça por acaso?", antes de fazer a detenção que poderá a condenar levar chibatadas em praça pública pelo simples fato de estar sem o véu.

Essa repressão que as mulheres sofrem é retratada também na ótima concepção visual de uma das assombrações, que veste um hijab (veste muçulmana que cobre o corpo das mulheres), em determinado momento a assombração chega a afogar as protagonistas em um verdadeiro labirinto de panos, em um surpreendente trabalho visual da ótima fotografia do filme que retrata o sufocamento que as mulheres sofrem pelo regime teocrático, em outro momento a assombração ganha a forma do seu marido, sendo rude e machista, ao ponto de ela se confundir por alguns segundos se é uma assombração ou se seu marido voltou. E também é curioso notar que mesmo sendo um filme de terror de baixo orçamento e do circuito alternativo, os seus efeitos especiais são melhores do que os da continuação do campeão de bilheteria "Invocação do Mal".

O gênero terror estava decadente nos últimos tempos, porém cresceu bastante quando passou a ser usado como metáfora social, isso aconteceu recentemente em grandes filmes como o australiano "O Babadook", o austríaco "Boa Noite, Mamãe", os estadunidenses "A Corrente do Mal" e "A Bruxa", o sueco "Deixa Ela Entrar" e agora nesse excelente "Sob a Sombra". Se você não consegue gostar desses estilos de filmes, está na hora de se perguntar se você realmente gosta de histórias de terror ou apenas de filmes de sustos.

Cotação:  ***** (Excelente)




Trailer



Bônus

Confira um trecho do filme exibido durante o Festival de Cinema de Sundance:

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