Deixado de lado por muitos anos, terror nacional volta usando lendas brasileiras populares

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Deixado de lado por muitos anos, terror nacional volta usando lendas brasileiras populares

Joel Caetano (e), José Mojica Marins (c) e Rodrigo Aragão (d) no set de "As Fábulas Negras"


Depois de conquistarem o terceiro lugar no ABCs of Death (ABC da Morte) com M is for Mailbox (assista aqui), Dante Vescio e Rodrigo Gasparini estão percorrendo o mundo em festivais de cinema de horror com o filme O Diabo Mora Aqui. No entanto, eles não estão sozinhos nessa jornada. O curta-metragem Ne Pas Projete, do crítico de cinema, ator e cineasta Cristian Verardi, e As Fábulas Negras, de Rodrigo Aragão, Joel Caetano, José Mojica Marins e Petter Baiestorf, juntam-se à tendência de produções do gênero que buscam reafirmar a força do cinema brasileiro e sua cultura. 

O que eles têm em comum, além da visibilidade internacional que vêm ganhando em festivais, como o de Sitges (Espanha), de Tiradentes e de Gramado, é a definição do terror brasileiro. No curta de Verardi, a magia do cinema de horror é o tema principal, enquanto O Diabo Mora Aqui e As Fábulas Negras resgatam e reinventam lendas urbanas de tempos da escravidão e também histórias do folclore brasileiro, que ganham uma ambientação macabra.

“Eu acho a mitologia brasileira muito legal e com um potencial enorme para fazer coisas legais com ela. Parece que depois do Monteiro Lobato quase ninguém resolveu mexer muito com isso, e temos gerações inteiras que estão esquecendo dessas histórias”, pontua Marcel Izidoro, produtor e idealizador de O Diabo Mora Aqui, em entrevista ao Cine Festivais.

13 Histórias Estranhas


Cena de "13 Histórias Estranhas", terror destaque no Festival de Gramado presta homenagem as lendas urbanas dos anos 70


O curta-metragem Ne Pas Projeter, escrito e dirigido por Cristian Verardi, faz parte da antologia 13 Histórias Estranhas, que reúne trabalhos de 13 cineastas do sul do país. O projeto começou despretensioso em Porto Alegre (RS) a partir da troca de ideias entre o maquiador Ricardo Ghiorzi e o cineasta Felipe M. Guerra. Mas, no fim das contas, acabou tomando novas proporções e agregou outros participantes do Paraná e Santa Catarina. Participam do projeto desde veteranos do cinema underground, como Petter Baiestorf, até estreantes na sétima arte, como foi o caso de Cláudia Borba.

Os cineastas tiveram total liberdade de escolha de tema, resultando assim em um produto variado e também experimental, entre altos e baixos. Os curtas foram organizados por sorteio, começando com O Poço do Elevador, de Fernando Mantelli, e finalizando com o Ne Pas Projeter, de Verardi. Entre o começo e o fim de 13 Histórias Estranhas, há terror para todos os gostos, de thriller psicológico, surrealismo e até produções de horror escrachado.

No curta de Verardi, o espectador acompanha a saga de um projecionista que encontra um misterioso rolo de filmes e não contém sua curiosidade. Devido a sua fixação a filmes de horror dos anos 1970, o diretor abusa de referências, seja em sua iluminação sombria ou em citações direitas a clássicos independentes do gênero, como Don’t Look Now, produção anglo-italiana de 1973 de Nicolas Roeg.

Após a boa avaliação da primeira antologia e também por ter se mostrado um meio viável para que cineastas independentes mostrem seu trabalho, o idealizador do projeto já anunciou que em breve fará a parte 2, desta vez contando com a participação de profissionais não só da região Sul, mas de todo o Brasil. 




Escravidão, racismo e terror


Cena do tenso terror "O Diabo Mora Aqui", maldições da época da escravidão


O Diabo Mora Aqui conta a história de quatro jovens que decidem passar uma noite em um casarão colonial e acabam envolvidos em uma luta entre forças ancestrais. Trazendo à narrativa elementos do folclore e lendas urbanas brasileiras, o terror independente não está ali apenas para provocar o medo, mas também uma reflexão social. “O George Romero usava os zumbis dele para criticar o consumismo, por exemplo. No nosso filme, também buscamos principalmente incluir um comentário sobre o nosso passado de escravidão e o racismo”, destacou o produtor Marcel Izidoro ao Cine Festivais.

Financiado sem leis de incentivo à cultura ou editais, os produtores de O Diabo Mora Aqui arrecadaram R$ 250 mil por meio de permutas e crowdfunding. “Nós temos esse modelo de financiamento através de edital no Brasil e acho que o mercado cinematográfico acabou ficando dependente dele. O problema do edital ou lei de incentivo é que você está sendo julgado por alguém, seja o diretor de marketing de uma empresa ou analista da Ancine. Nós não queríamos ter essa dependência, portanto resolvemos encarar o filme como se fosse uma startup, levantando dinheiro com investidores particulares, alguns deles internacionais”, disse Izidoro em entrevista ao UOL.

Posted by O Diabo Mora Aqui / The Fostering on Quinta, 8 de outubro de 2015



O folclore em seu lado mais sombrio

Cena do elogiado terror "As Fábulas Negras", um banho de sangue nas lendas do folclore brasileiro


Mesmo que as referências do cinema de horror venham de fora, é possível ter uma produção 100% nacional e, o melhor, original. Esse é o resultado da junção dos trabalhos dos grandes nomes do horror independente, Rodrigo Aragão, Joel Caetano, José Mojica Marins e Petter Baiestorf, que juntos fizeram As Fábulas Negras, antologia com cinco histórias de horror.

Tudo começa com Crônicas do Esgoto, de Rodrigo Aragão, uma mistura de lendas urbanas com um trash macabro e irônico, que retrata o drama de uma população aterrorizada por um monstro carnívoro que habita o sistema de saneamento superfaturado da cidade. Na sequência vem Pampa Feroz, de Petter Baiestorf, um curta onde o foco é descobrir a identidade do Lobisomem que anda devorando muita gente.

Em O Saci, Mojica coloca em prática toda sua experiência (por trás e também frente às câmeras) e retrata uma tensa história de perseguição, entre “pegadinhas” e armadilhas do garoto lendário de uma-perna-só. Joel Caetano apresenta o curta mais assustador do filme com A Loira do Banheiro, trazendo fortes influências das narrativas de terror japonês.

Para finalizar a sessão, a co-produção A Casa de Iara, quando o público conhece a história de uma esposa traída que faz um pacto com o diabo para se vingar do casal. O último episódio é responsável pelo desfecho de As Fábulas Negras e remete à cena inicial da produção, quando quatro garotinhos se reúnem na floresta para contar e escutar histórias macabras. Afinal, quem não gosta de surpresas?



Fonte: Assiste Brasil

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