terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
A origem da lenda urbana da Loira do Banheiro
Bata a porta do banheiro, dê descarga e abra a torneira. Faça isso três vezes. Quem esteve em uma escola brasileira nas últimas quatro décadas sabe: surgirá uma loira, com algodão nas narinas e machado na mão. Sim, ela está morta. Mas, afinal, de onde teria surgido essa mulher? A resposta é simples e direta: de uma matéria de jornal. Ou melhor, da imaginação de jornalistas que criaram e recriaram esta que possivelmente é das mais duradouras lendas urbanas.
A manchete estampou a capa do extinto jornal Notícias Populares em 1966: “Loira fantasma aparece em banheiro de escola”. Acostumados a buscar notícias polêmicas, os repórteres do NP se depararam com uma tarde sem sangrias. Ninguém fora morto a machadadas, nenhum bebê-diabo na maternidade. Mas havia uma foto borrada de uma funcionária do jornal. Loira. Tiveram a ideia da manchete, recriando a história inventada por Orlando Criscuolo para o Diário da Noite, anos antes. O borrão virou algodão, e a loira, defunta.
A edição esgotou. Mário Luiz Serra, um dos “pais” da loira, conta que recebeu uma diretora do conceituado Colégio Rio Branco, de São Paulo, afirmando ter tirado uma foto da fantasma. Quando o filme foi revelado, não havia nada. “Se fosse gente, aparecia”, assegurava a educadora. A pressão aumentou, inclusive da Secretaria de Educação da cidade: por medo, as crianças não queriam mais ir ao banheiro. O jornal teve que publicar um desmentido. Tarde demais. A loira continuou cercando as escolas. Até mesmo a prima da tal funcionária que inspirou a manchete confessou: “Eu vi a loira do banheiro”.
Fonte:
Nada Mais que a Verdade – A extraordinária história do jornal Notícias Populares, de Celso de Campos Jr., Denis Moreira, Giancarlo Lepiani e Maik Rene Lima (Carrenho, 2002).
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