Em um feito inédito para o cinema brasileiro, o curta-metragem “Antônia”, dirigido por Flávio Carnielli, de Paulínia - SP, venceu a concorrência de quase 1.500 produções do mundo inteiro e foi considerado o filme com a proposta mais original e inventiva pelo júri do Festival Independente de San Luís Potosí, no México. Este é o 16º prêmio conquistado por uma das obras mais premiadas do interior paulista.
Produzido em 2020, “Antônia” é um filme sem diálogos e colorizado como uma foto preto e branca pintada à mão e mofada pelo tempo. São registros de como a tristeza e a solidão causadas pela morte apodrecem a relação humana com a fé e a natureza.
A história se passa em uma fazenda no interior do Brasil do século XIX, quando a varíola, antes de matar, apodrecia suas vítimas e as vidas daqueles que os cercavam.
Segundo o roteirista e diretor Flávio Carnielli, o desejo era escrever uma história que fosse triste, suja e encantadora ao mesmo tempo. “Por isso, a escolha pelo silêncio e pela analogia com as fotografias antigas, colorizadas e mofadas pela ação do tempo”, conta.
“Tal como a doença e a morte ao longo da história, esse conjunto de imagens desperta em nós, simultaneamente, uma espécie de fascínio mórbido por sua beleza decadente, que raramente ousamos expressar em palavras, e o horror em constatar a nossa própria mortalidade”, acrescenta.
Com locações em cidades do interior paulista como Campinas, Indaiatuba e Cordeirópolis, a obra de Paulínia teve excelente recepção no exterior, onde recebeu o nome de “Rotten Faith” (Fé Apodrecida), o curta-metragem “Antônia” já foi exibido em 6 países: Alemanha, Holanda, Colômbia, México, Estados Unidos e Espanha.
O objetivo de Flávio Carnielli também era abordar a relação das pessoas com a fé, ou com a natureza, nos momentos em que nos deparamos com obstáculos intransponíveis como uma doença terminal ou a morte de um ente querido, em especial quando parece “injusto” ou “antes do tempo”. Assim, tal como as fotos, muitas vezes essa relação apodrece, transformando-se em um profundo sentimento de injustiça e ódio contra as entidades que acreditamos controlar a vida, seja Deus ou a natureza.
“Silenciosamente, oferecemos a elas nosso desprezo, encerramos nossas orações e preces, posto que não foram ouvidas, e não seria absurdo acreditar que abriríamos mão de quaisquer princípios morais para corrigir aquilo que entendemos como um duro e não merecido golpe, mesmo que isso significasse apodrecer por dentro ou contrariar a ordem natural da vida”, discorre Carnielli.
Para o diretor de “Antônia”, a fotografia e a direção de arte de Helen Quintans contribuíram muito para o êxito do filme. “Um trabalho meticuloso de composição, onde cada detalhe, nos rostos, nas vestes, nos cenário parece pintado pela luz. O olhar de Helen imprimiu uma marca visual incomum ao filme e justifica os prêmios de fotografia e direção de arte que vem conquistando”, enaltece Flávio Carnielli.
Produtor de “Antônia”, o também cineasta Hamilton Rosa Júnior afirma que o filme ficou pronto exatamente quando a pandemia começou e os festivais entraram num impasse. “Os organizadores dos eventos não sabiam o que fazer. Fechar as portas ou modificar a estrutura e exibir os filmes online? Mesmo assim, lutamos para o filme ser exibido e estamos conseguindo uma excelente recepção”, comemora.
Clique aqui para conferir a matéria da Globo feita sobre o filme.
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