Black Sabbath, como filme de terror fez surgir o heavy metal há 50 anos

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Black Sabbath, como filme de terror fez surgir o heavy metal há 50 anos


Foi em uma sexta-feira, 13. Um disco com capa meio esquisita, mostrando uma figura disforme, que parecia uma bruxa ou uma assombração, lançado timidamente na Inglaterra. O nome do álbum era igual ao da banda - e da faixa de abertura: Black Sabbath

O mesmo título de um filme de terror de 1936 dirigido por Mario Brava. Formado por Ozzy Osbourne (voz), Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria), o quarteto mudou a história do rock, dando origem a um novo gênero, que viria a ser conhecido como heavy metal.

O Black Sabbath trouxe um peso inesperado para a época em seu som, dando continuidade aos experimentalismos sonoros da psicodelia, mas contrapondo-se à sua estética colorida que pedia por paz e amor. Não que o Black Sabbath, chamado Earth em seus primórdios, não tenha começado como uma banda colorida de blues rock, como a maioria de seus companheiros na época. Mas seu visual macabro inspirou em grande medida a estética que viria a ser adotada pelo heavy metal como um todo.

A faixa-título do disco de estreia abria com o som de uma tempestade, o dobrar de sinos e um riff longo, grave, distorcido e arrastado. Suas três notas estavam dispostas em uma sequência conhecida na Idade Média como o "intervalo do Diabo", algo que era terminantemente proibido pela Igreja de ser tocado. Apesar de parecer um truque bolado para chocar, o próprio guitarrista admite, em sua autobiografia Iron Man, que a ideia não foi intencional. "Eu não fazia ideia, foi simplesmente algo que senti dentro de mim. Foi quase como se aquilo tivesse saído de mim à força, as coisas surgiam assim."

O disco contava com faixas que viriam a se tornar clássicos da banda, como N.I.B, com seu riff pegajoso; The Wizard, com sua gaita amedrontadora, e Sleeping Village, contribuindo com o clima de terror. Também trazia dois covers: Evil Woman, do Crow, e Warning, do Aynsley Dunbar Retaliation.

Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, um dos principais grupos do metal contemporâneo, falou ao jornal O Estado de S. Paulo sobre a influência da banda: "Black Sabbath é tudo, todo o metal veio deles, mesmo sem saberem o que estavam fazendo", analisa. "Por mais barulhenta e diferente que seja a banda, se ela é de metal, veio do Black Sabbath."

Essa influência pode ser sentida na evolução de um dos subgêneros do metal, o stoner rock, que se inspira tanto no Sabbath - especialmente no disco Masters of Reality, ressalta Kisser - que até mesmo os nomes das principais bandas desse estilo remontam aos títulos de faixas do Sabbath, como Electric Wizard, Saint Vitus, Black Debbath...

O guitarrista do Sepultura, que está lançando um novo disco, considera ainda que a banda foi bastante experimental durante os anos 1970, mas com a saída de Ozzy do grupo, eles diversificaram seu som e se renovaram.

O Filme
Filme de terror italiano de 1963, Black Sabbath ("As Três Máscaras do Terror" no Brasil), serviu de inspiração para o surgimento da banda.

Não é exagero. Se hoje existe “Pulp Fiction”, Ozzy Osbourne e as histórias de halloween na série "Os Simpsons", é porque um dia houve um filme chamado “As Três Máscaras do Terror” (“I Tre Volti Della Paura”, no original; "Black Sabbath", na versão em inglês). Lançada em 1963, a obra-prima do diretor Mario Bava é o grande expoente do terror italiano dos anos 1950 e 1960. O longa ajudou a definir uma estética de suspense psicológico no cinema. Personagens dúbios, que levam à expectativa do público a níveis estratosféricos, aliados a mulheres estonteantes e perturbadas, além dos indefectíveis mortos-vivos, tornaram-se recursos mais do que comuns a partir dali.

O filme, descrito por Tarantino como a fonte de inspiração de "Pulp Fiction", é dividido em três minicontos, introduzidos pelo ator Boris Karloff, o eterno Frankenstein, um tipo medonho de mestre de cerimônias. O primeiro, “O Telefone”, conta a história de Rosy, uma bela jovem que começa a receber telefonemas ameaçadores de um fugitivo da prisão -- estratégia explorada três décadas depois por Wes Craven na série “Pânico”.

Baseado em uma história do escritor russo Aleksei Tolstoy, “Wurdalak”, o segundo segmento, retrata uma família do leste europeu (a terra de Drácula) à espera do retorno de seu patriarca (Boris Karloff), após ir atrás de um perigoso bandido turco que aterroriza a região. Ele volta, mas sob a forma de um decrépito vampiro-cadáver-ambulante: a inspiração para George Romero filmar ”A Noite dos Mortos Vivos”, de 1968.

A última história horripilante, "A Gota d´Água", é centrada em uma enfermeira que vive um grande pesadelo após roubar um anel de brilhante de uma condessa quando preparava o corpo dela para o funeral. Essa parte tem início ao som de chuva e trovadas, os mesmos que seriam ouvidos sete anos depois na introdução da música “Black Sabbath”. Ozzy Osbourne, no entanto, afirma em sua autobiografia que nunca chegou a ver o longa de Mario Bava. A motivação para usar o nome do filme na banda, que em 1969 atendia pela alcunha hippie Earth, surgiu com o o baixista Geezer Butler. Ele se espantou com o tamanho da fila de um cinema de Birmingham que exibia o filme. “As pessoas pagam para assistir isso?"

O resto, como reza o clichê, está escrito na história. O Black Sabbath foi criado e mergulhou a fundo no peso das guitarras e no sobrenatural, servindo de combustível para a criação do heavy metal. Um gênero cujo o DNA, quem diria, guarda origem italiana.

Cena da história A Gota d´Água, um dos contos horripilantes presentes no filme As Três Máscaras do Terror (Black Sabbath).

Relembre a atração inspirada em álbum da banda no Halloween Horror Nights de 2013:



Fontes: Jornal O Estado de S.Paulo e UOL

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