Em Zaragoza, na Espanha, no ano de 1934, um mistério acontecia na casa da família Palazón. Eles começaram a ouvir vozes do andar de cima — os estranhos risos e gritos pareciam estar nas paredes da cozinha, mais especificamente no fogão ou na chaminé do apartamento em que moravam.
Mas a voz não era coisa da cabeça da família. Quando pediram ajuda dos vizinhos, eles também ouviram e questionaram o peculiar acontecimento.
Pascuala Alcocer em frente à chaminé do duende. |
O curioso fenômeno da chaminé falante surgiu do nada. Literalmente. Era em setembro, quando um membro da família Palazón ouviu pela primeira vez estranhas gargalhadas masculinas surgiram de trás das paredes da cozinha de sua casa de dois andares, na rua Gascón Gotor.
No início, eles supuseram que os vizinhos estavam fazendo uma zoeira. Depois de um tempo, as risadas viraram gemidos, gritos, sussurros e vários tipos de ruídos não identificados, que apareciam junto com as risadas que surgiam do nada, e ficavam mais altos quando a família abria seu fogão. No inicio, eram só ruídos e risadas, como se o que quer que fosse que estivesse fazendo aquilo estivesse “ensaiando”.
Foto da fachada do local onde aconteceu o fenômeno misterioso. |
O duende ganha força
Foi na noite de 27 de setembro, quando a empregada, Pascuala Alcocer, estava na cozinha, terminando de lavar a louça que se ouviu uma voz masculina esquisita chamando seu nome, seguida por uma prolongada gargalhada sinistra.
O coração da pobre empregada quase parou. Trêmula e assustada até a morte, ela gritou e chamou os moradores para contar o que aconteceu.
Nos dois dias seguintes, a voz apareceria aleatoriamente, às vezes em momentos inconvenientes, como às 5 da manhã, muitas vezes chamando a empregada como se tivesse alguma estranha fixação nela.
Ocasionalmente, a voz apenas provocava as pessoas quando elas se aproximavam da cozinha. Era como se fosse uma entidade que tudo via, plenamente consciente do que acontecia em todos os cômodos da casa, pois algumas vezes a voz se referiu a coisas que aconteceram fora da cozinha.
Os Palazón tinham quase certeza de que só poderia se tratar de um duende invisível , um tipo de goblin, um ser sobrenatural que estava, por algum motivo, vivendo dentro de seu fogão e falando através da chaminé.
Eles contaram aos vizinhos e pediram ajuda. Claro que os vizinhos não acreditaram a princípio, mas todos mudavam de opinião quando chegavam na cozinha e eram saudadas por uma chaminé que chamava cada um pelo nome!
Sem opções do que fazer a seguir, a família em completo estado de confusão, recorreu à polícia. A notícia sobre um duende invisível que vivia na rua Gascón se espalhou pelo bairro, de modo que a polícia chegou para verificar as afirmações bizarras.
Era meados de novembro, quando ocorreu a primeira conversa formal entre a força policial e o que quer que estivesse habitando a chaminé. Para sua surpresa, cada oficial foi saudado pelo nome pela voz estranha quando eles entraram na cozinha.
Desconcertados, mas acreditando que ali estava uma farsa elaborada, a polícia fez com que os Palazón fossem transferidos para outra residência distante enquanto o imóvel era completamente investigado.
Quando os vizinhos começaram a espalhar a história e o mistério do caso ganhou atenção da mídia, colocando a polícia numa posição desconfortável de passar vergonha por não elucidar. Assim, todos os maiores esforços foram dedicados a descobrir o mistério e limpar o nome da instituição policial.
O caso do duende na chaminé tornou-se uma sensação nacional. Diariamente centenas de pessoas se aglomeravam na rua de todos os cantos da cidade para ver, ou talvez conseguir uma chance de conversar com o fogão mal assombrado.
Até o London Times começou a cobrir a história e uma estação de rádio de Barcelona se empenhou em instalar um microfone para uma transmissão de rádio ao vivo, num caso único da história: Uma entrevista ao vivo com o misterioso morador da chaminé.
O fenômeno colocou a cidadezinha desconhecida no mapa. Em seu primeiro artigo, intitulado “A Polite Spanish Ghost”, lançado em 24 de novembro de 1934, eles relataram que inicialmente uma equipe de arquitetos e trabalhadores da construção civil foi enviada para inspecionar todo o prédio, mas não encontraram ninguém em lugar algum.
Segundo relatos, quando o arquiteto sugeriu que seus homens medissem a abertura da chaminé, a voz simplesmente disse: “você não precisa se dar ao trabalho, o diâmetro aqui é de 6 polegadas”. Ele estava certo.
No segundo momento da investigação, após uma criteriosa varredura, a polícia evacuou o prédio, as casas ao lado e trouxe o exército para cortar toda a eletricidade e as telecomunicações da vizinhança.
Uma patrulha policial do exército foi então designada para vigiar o perímetro dia e noite e não deixar ninguém ou qualquer coisa escapar.
Arturo Grijalba era apenas um garoto quando a entidade falou com ele. Ele era o filho do proprietário do prédio e a única testemunha remanescente viva dessa história. Enquanto a investigação estava acontecendo, ele entrou na cozinha para dar uma olhada nessa voz infame. Ele observou que não havia moradores no prédio. Somente policiais estavam ao lado do fogão e ao redor do prédio, guardando o perímetro.
Quando Arturo se virou para o pai e disse: “Vamos pai, essa coisa é loucura”.
Inesperadamente, voz então respondeu:
“Não é uma louca pequenino…” em uma resposta gutural. Todo mundo ouviu, inclusive os policiais e ficaram com medo.
Estranhamente, tão súbito quanto surgiu, o fenômeno estancou. A voz parou de falar. Mas mesmo investigando a chaminé por dentro exaustivamente, nada foi encontrado. Depois de dois dias de silêncio do goblin, o magistrado local, que estava ansioso para restaurar a lógica e a ordem na cidade, considerou o caso simplesmente uma anomalia e a polícia se retirou. No entanto, as coisas estavam longe de terminar.
Sacerdotes foram chamados para borrifar a chaminé com água benta e os Palazóns foram trazidos de volta sob a suposição de que “quem quer que estivesse fazendo eles de idiotas tinha ido embora”, com todo o exército e a polícia ao redor.
Mas foi só botarem os pés na casa que a voz berrou lá da cozinha:
– “Covardes, covardes, covardes, eu estou aqui!”
A voz parecia bastante raivosa agora.
Diziam que quando alguém apagava a luz da sala como teste, a entidade gritava: “Luz! Luz! Eu não posso ver! ”
“Vou matar todo mundo lá dentro!” – disse a voz, e a família rapidamente deixou o apartamento mais uma vez. Só que desta vez, eles deixaram para sempre.
Autoridades investigam cozinha misteriosa. |
O governador de Saragoça, ao saber que a voz tinha retornado, ordenou ao chefe de polícia que levasse toda a família para um interrogatório e avaliação psiquiátrica. Até membros da Scotland Yard estavam planejando viagens para o apartamento para tentar resolver o caso. No dia 30 de novembro, o governador de Saragoça já tinha tido o suficiente e pediu o fim de toda a bobagem gobinóide, pedindo ao povo que se estabelecesse e ajudasse a descobrir quem era o brincalhão.
Em 4 de dezembro, o governador divulgou uma declaração de que a empregada da família, Pascuala Alcocer, era a culpada.
A fundamentação dessa declaração se baseava no fato da voz vir da cozinha, logo área de empregados. Além disso, eles sugeriram que a empregada sofresse de um fenômeno altamente incomum e bizarro chamado de “ventriloquismo inconsciente”, onde ela conseguiria projetar sua voz em objetos inconscientemente.
Claro que essa ideia parece ainda mais fantástica que o duende na tubulação. Além disso, seria estranho imaginar como a empregada realizaria a façanha se ela não estava nem perto do imóvel durante a maior parte do tempo. Fora o fato de que todas as testemunhas afirmavam que a voz era masculina e após os seus primeiros encontros e as pessoas jurassem que ouviam a voz quando ela não estava por perto, a culpa foi colocada no elo mais fraco: Pascuala Alcocer.
Sem respostas reais para os estranhos eventos, os juízes, policiais e psiquiatras presumiram que Pascuala estava usando ventriloquismo para criar essa farsa. Eles estavam em extrema pressão para encontrar uma solução para essa histeria, que culpar a garota era a melhor maneira de pensar em acalmar a situação. Sua teoria do ventriloquismo não sobreviveu.
Formalmente é dito que o duende fez sua última comunicação, onde ameaçou matar a todos, em Dezembro de 1934, quando Pascuala não estava trabalhando na casa. Mas anos mais tarde, Arturito foi questionado sobre este tema e ele disse que para ele não era nada de ventríloquos, que era algo que não era físico e que a criatura continuou falando pela chaminé até 1935, mas confirmou que devido ao medo, sua família acabou deixando a casa.
O bloco de apartamentos foi demolido 40 anos depois, e o novo prédio no local recebeu o nome de “Edifício Duende” e “Edifício Goblin” como homenagem ao fenômeno até hoje não explicado. Não existem mais relatos da volta do fenômeno misterioso ao local.
Foto do local atualmente, edifício homenageia a lenda. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário