O folclore brasileiro como ele realmente é..

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O folclore brasileiro como ele realmente é..


Hoje, dia 22 de agosto, é comemorado o Dia Nacional do Folclore. 

Muitas pessoas acham que o folclore brasileiro é muito infantilizado ou bastante sem graça para os padrões dos filmes de terror de hoje em dia, elas certamente desconhecem que a grande maioria das lendas do folclore brasileiro surgiram para assustar e não para encantar, confira um resumo de algumas dessas lendas em suas versões originais:


As Lendas Mais Conhecidas


VAMPIRÃO PERNETA


Baseado em depoimentos populares, o escritor Monteiro Lobato publicou um “retrato falado” do Saci-Pererê em 1917. Na época, além de travesso, o figura de uma perna só ainda aparecia chifrudo e com dentões pontudos para sugar o sangue de cavalos. E ai daquele que o ofendesse: era morto a cócegas ou a porretadas!



DO PÉ VIRADO





O Curupira que conhecemos é caracterizado como o protetor da floresta, que tem os pés invertidos (calcanhar na frente e dedos atrás) para despistar quem o segue. Mas, hoje, ninguém fala que ele supostamente não tem orifícios para evacuar (eca!) nem que açoita e mata pessoas no mato ou encanta criancinhas para as atrair para suas presas.

Se alimenta de crianças e filhotes recém-nascidos e é reconhecido por seus gritos e gargalhadas malévolos. Costuma estuprar índios (homens) perdidos na floresta, assim como índias virgens, sendo que, se isto ocorrer em noites de lua nova, segundo a crença, será concebido um ser híbrido, pequenino e levado. Possui uma espécie de corda que de dia amarra na cintura como um cinto e mais à noite maneja como bem quer, usando-a para capturar suas presas.



MULHER DO PADRE





A punição é implacável: caso uma mulher transe com um padre, vira Mula Sem Cabeça. Mas, se a criatura que solta fogo pelo pescoço já é assustadora em si, nas primeiras versões do conto, são reveladas as cenas em que, em certas noites, ela sai em disparada estraçalhando, com seus cascos afiados, os homens que lhe cruzam o caminho.




ESCRAVO DE DÓ





A história do Negrinho do Pastoreio surpreende por não ter tido nada amenizada. A lenda é nua e crua, assim como a pele do escravo de 14 anos que, por perder um cavalo, é chicoteado pelo dono e amarrado todo ensanguentado sobre um formigueiro até morrer! O “relax” só vem no fim, quando sua alma é salva e ele vira um fantasma de pele lisinha, sem marca das torturas.



CAVEIRÃO PAPÃO





A Cuca “de verdade” não tem nada a ver com a bruxa-jacaré meio trapalhona do Sítio do Picapau Amarelo. Na origem, ela é uma velha apavorante que captura crianças e enfia num saco. Seu nome é derivado de termos como coca e coco, usados antigamente na Espanha e em Portugal para designar coisas como demônios e caveiras. Crânios de jacarés serviam como máscara para os rituais de sacrifício.



MENINO DO RIO



No Norte é famosa a história do Boto-Cor-de-Rosa, um parente do golfinho que, à noite, vira homem e sai para conquistar donzelas nos bailes. Em geral, o máximo que rola é uma gravidez aqui, outra acolá. Nas versões mais pesadas, porém, há botos mortos com tiros ou porretadas por galantear a mulher alheia – incluindo alguns com a cabeça aberta, exalando um baita cheiro de cachaça.



ENCANTO PROFUNDO





A Iara, uma sereia morena que encanta marmanjos com seu canto nos rios amazônicos, já foi uma bela índia, que pagou caro pela formosura e pela liderança dentro da família. Uma versão do conto descreve como ela tem que matar os irmãos invejosos em defesa própria, mas acaba sendo jogada no rio pelo pai como castigo. Por isso, seduz os caras a mergulharem e virarem petiscos no fundo dos rios



POZINHO MÁGICO





Já imaginou uma história infantil em que a criançada cheirasse um pozinho para curtir a maior viagem no tempo e no espaço, aprontando todas? Nas primeiras versões do Sítio do Picapau Amarelo era assim. Só mesmo nos anos 70 é que o pó de pirlimpimpim passou a ser jogado na cabeça dos personagens. O motivo? Não remeter ao consumo de cocaína…


As Lendas Menos Conhecidas



A QUIMERA TUPINIQUIM


Teju Jagua é um dos sete filhos de Tau e Kerana, um monstro do folclore guarani, era conhecido como o deus das cavernas, grutas, lagos internos e frutas, era uma quimera assustadora. Acredita-se que ele protegia suas frutas e o mel das abelhas que moravam nas arvores de onde habitava, ficava a espreita , esperando os humanos furtar, para poder arrastá-los até sua caverna, onde os prendia e estocava para se alimentar.

Diz-se que ele habita a profundeza de uma caverna, protegendo os tesouros Guaranis.. Durante o verão, a hibernação acaba e logo ao entardecer, diz-se que é possível ver Teju e seu irmão mais novo Jaci indo beber água nos lagos próximos das cavernas.


O PARENTE DO LOBISOMEM


O Luison é uma criatura detentora do poder sobre a morte. Seu nome é derivado do nome de outra criatura mitológica, o lobisomem.

Acredita-se que seja semelhante a um macaco de olhos vermelhos, com barbatanas de peixe e um enorme falo (de anta) mas é descrito também não como um "lobisomem", mas sim como um "homem-cachorro". Nas noites de terça e sexta-feira ele se transforma, virando uma espécie de lobo de cabeça anormalmente grande comparado ao corpo e vaga pelos cemitérios, comendo a carne dos cadáveres. Ele ataca as pessoas que passarem por ali e dos sete irmãos é o mais temido, pois não aparece somente na Lua-Cheia como os Lobisomens, mas também em noites de tempestade. 

Ainda assim, nas noites de lua-cheia é quando se sente mais "disposto", e diz-se que é possível avistar Luison encabeçando um bando de cães de rua enquanto vagam despreocupados cidade à fora.


O CARNEIRO CANIBAL


Ao Ao é um monstro semelhante a um carneiro, mas possui longas e afiadas garras que usa para atacar as pessoas que caminham pela floresta. O seu nome é derivado do som que faria ao perseguir suas vitimas. O primeiro Ao Ao teria uma enorme virilidade e por isso é identificado como o principio da fertilidade pelos guaranis. Produziu grande descendência igual a ele, e servem coletivamente como senhores e protetores das colinas e montanhas.

É descrito ainda como sendo canibal devorador de gente. Embora sua descrição física seja claramente inumana, é meio humana por nascimento, então o termo canibal se aplicaria. De acordo com a maioria das versões do mito, quando localiza uma vítima para sua próxima refeição, persegue o infeliz humano por qualquer distância ou em qualquer território, não parando até conseguir sua refeição.

Se a presa tentar escapar subindo em uma árvore, o Ao Ao circundará a mesma, uivando incessantemente e cavando as raízes até a árvore cair. De acordo com o mito, a única árvore segura para escapar seria a palmeira, que conteria algum poder contra o Ao Ao, e se a vitima conseguisse subir em uma, ele desistiria e sairia em busca de outra refeição.


A SERPENTE PROTETORA


Moñai é o espírito protetor da terra e do vento. Tem uma aparência semelhante a de Mboi, mas não só o corpo como sua cabeça também é de serpente. Possui duas enormes presas e seus dentes são finos e afiados como agulhas. Diz-se que Moñai vive no fundo de rios e/ou em desertos. Tem uma aparência ameaçadora mas não ataca pessoas nem animais, pelo contrário, protege todos os tipos de seres vivos.


O LEPRECHAUM BRASILEIRO 


Com um nome que significa literalmente pedaço da Lua (Jaci Jaterê) , é único dentre os seus irmãos a não possuir uma aparência monstruosa. Usualmente é descrito como um homem de pequena estatura, ou talvez uma criança, aloirado e as vezes com olhos azuis. Tem uma aparência distinta, algumas vezes descrita como bela ou encantadora, e carrega um bastão ou cajado mágico. Como a maioria de seus irmãos, habita na mata, sendo considerado o protetor da erva-mate. Algumas vezes é visto como protetor dos tesouros escondidos.

Jaci Jaterê também é considerado o senhor da sesta, o tradicional descanso ao meio do dia das culturas latino-americanas. De acordo com uma das versões do mito, ele deixa a floresta e percorre as vilas procurando por crianças que não descansam durante a sesta. Embora seja naturalmente invisível, ele se mostra a essas crianças e aquelas que veem seu cajado caem em transe ou ficam catalépticas. Algumas versões dizem que essas crianças são levadas para um local secreto da floresta, onde brincam ate o fim da sesta, quando recebem um beijo mágico que as devolve a suas camas, sem memória da experiência.

Outras são menos claras, onde as crianças são transformadas em feras ou entregues ao seu irmão Ao Ao, uma criatura canibal que se alimenta delas. Muitas lendas Guarani têm muitas versões por serem apenas orais, mas está claro que a intenção é manter as crianças obedientes e sossegadas durante a sesta.

Como já foi dito, o poder de Jaci Jaterê vem de seu bastão mágico, e se alguém for capaz de tirar seu cajado, ele se atira ao chão e chora como uma criança pequena. Neste estado, se alguém perguntar pelos tesouros escondidos, recebe uma recompensa, lenda semelhante ao Leprechaun ou duende europeu.
Alguns estudos associam o Jaci Jaterê à gênese da lenda do Saci Pererê, que por influências africanas e europeias acabou por se distanciar das características originais.


A SERPENTE PAPAGAIO


Um monstro de cabeça de papagaio e corpo de serpente. Mboi Tu'i não só rasteja pela terra como também consegue voar em alturas não muito altas, por isso, pode se esconder em rochas altas enquanto caça. Dizem que ele é o espírito protetor de criaturas marinhas, da névoa, do deserto e das plantas. Ao contrário do que aparenta, não ataca as pessoas, e se alimenta de frutas e neblina. Tem a língua furada da cor de sangue, e a pele cheia de escamas e listrada. Às vezes pode possuir penas em sua cabeça.

Ele patrulha pântanos e protege a vida dos anfíbios, gosta da umidade e flores, ele solta um poderoso e terrível grito incrível que pode ser ouvido de muito longe e que infunde o terror em todos que a ouvem. Dizem que quem olha diretamente em seus olhos passará a ter má sorte pro resto da vida.


O ROMANCE PROIBIDO QUE GEROU ABERRAÇÕES


A lenda começa quando Tau, o espírito e personificação do mau se apaixona perdidamente por Kerana, a linda filha de Marangatu.

Tau, disposto a conquistar Kerana, transformou-se em um jovem atraente e durante sete dias cortejou a moça, mas esta não lhe deu atenção. Após tentar de todas as formas conquistar o coração de sua amada, ele se viu sem esperanças, então, num rompante, sequestrou a garota para si a fim de levá-la embora. Porém, antes que pudesse fazê-lo, Angatupry (o oposto de Tau; o espírito do bem) apareceu e desafiou Tau a fim de poder salvar Kerana de suas mãos. A batalha entre o bem e o mau durou aproximadamente sete dias, mas durante um fraquejo de Angatupry, Tau aproveitou-se para escapar, acabando por levar Kerana para o mais distante possível de sua aldeia.

Neste ponto, existem duas variações da lenda. Na primeira, diz-se que enfurecido por ter deixado Tau escapar, Angatupry teria amaldioçoado a união do espírito do mau e Kerana, e em consequência disso, todos os sete filhos que viriam a nascer seriam monstros horríveis. Já na segunda, ao invés de Angatupry, a maldição teria sido lançado por Arasy, a grande Deusa, e todos os filhos exceto um teriam nascido como monstros.



Fontes: ArtigoSaci, de Monteiro Lobato: Um Mito Nacionalista, de Miriam Stella Blonski (UFMG); Dicionário do Folclore Brasileiro e Geografia dos Mitos Brasileiros, de Câmara Cascudo via Mundo Estranho

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