Todos os anos, milhares de pessoas visitam as Catacumbas de Paris mas, para o próximo Halloween, está reservada uma experiência especial, a cargo da Airbnb. Pela primeira vez, duas pessoas poderão entrar no local para sair apenas de manhã, sendo, por isso, as primeiras pessoas a dormir nas Catacumbas. Vivas, salienta a plataforma de alojamento online.
Para tentar a sorte e acabar a dormir a 20 metros debaixo de terra, basta procurar as Catacumbas de Paris na Airbnb e convencer o anfitrião de que se é suficientemente corajoso para passar lá a noite. As inscrições estão abertas até 20 de Outubro para qualquer pessoa e o prémio será para duas pessoas.
O programa para noite de Halloween inclui uma visita privada pelo labirinto de ossos e caveiras, um jantar ao som de violinos e ainda um contador de histórias na hora de dormir que irá ler algumas lendas das Catacumbas. Esta noite será apenas possível devido ao acordo de colaboração assinado pela Airbnb, que se compromete a financiar parte dos trabalhos de restauro das Catacumbas de Paris.
A plataforma assegura ainda, em comunicado, que foram estabelecidas medidas especiais de segurança e também para garantir a preservação dos restos dos esqueletos. Para os vencedores desta experiência ficam ainda algumas regras, nomeadamente: “Não tente invocar espíritos malignos” e “Não procure perseguir fantasmas pelas galerias, pode não encontrar nunca mais a saída”.
As Catacumbas de Paris
Longe do glamour da Champs-Elysées e ainda desconhecidas por muitos turistas, as Catacumbas de Paris fazem parte do patrimônio turístico francês. Na verdade, elas compõem um pedaço de um conjunto de mais de 300 km de galerias, conhecidas como Subterrâneos de Paris. Era dali que saía todo o calcário para as construções da cidade. A parte das Catacumbas, ou Ossuário Municipal, destinadas à visitação, se estende somente por cerca de 1,7 km a 20 metros de profundidade. Mas é um percurso diferente e você nunca mais vai ver Paris com os mesmos olhos.
A história das Catacumbas começa no final do século XVIII. Naquela época, a cidade de Paris contava com 200 cemitérios, fora os mortos enterrados dentro das igrejas. Segundo uma lei datada do período do Império Romano, os locais de descanso dos mortos deveriam ficar na periferia de Paris. No entanto, com o crescimento da cidade, os cemitérios passaram a integrar a área urbana e se tornaram locais de reunião de prostitutas, mendigos e ladrões. Além disso, com tantas epidemias, fome e guerras, a cidade já não tinha mais lugar para enterrar seus mortos e os cemitérios passaram a ser focos de infecção.
A situação de Paris era insalubre. O cemitério dos Santos Inocentes (cimetière des Saints-Innocents), que ficava no bairro de Les Halles e era o mais importante da cidade, já tinha quase dez séculos de vida. Estima-se que nos seus últimos 30 anos de atividade, 80 000 cadáveres tenham sido depositados lá.
Então, em 1780, a administração da cidade decide fechá-lo. Cinco anos depois, uma nova ordem determina a transferência das ossadas para um outro lugar, no subsolo parisiense, chamado “Tombe-Issoire”. O local era onde funcionavam as antigas pedreiras de calcário. Logo em seguida, as ossadas dos outros cemitérios foram também transferidas para o lugar e todos os cadáveres passaram a ser colocados ali, principalmente na época da reforma urbana de Haussmann, que começou em 1852.
Assim, nasciam as Catacumbas de Paris, que guardariam os restos mortais de todos os cemitérios da Cidade Luz de 1786 até 1860. Desde o começo, o local seria cercado de inúmeros fatos curiosos. Conta-se que a transferência dos esqueletos era feita ao cair da noite, com uma procissão em que os padres iam rezando o ofício dos mortos, acompanhados de carrinhos repletos de ossadas cobertas com um véu negro.
Outra curiosidade é em relação à disposição dos ossos que vemos ao visitarmos o local. Inspetor geral dos subterrâneos de 1808 a 1831, Visconde de Thury era o responsável para dar uma arrumação digna para o descanso eterno dos cadáveres. Então, ele decide dar a esses anônimos uma decoração sombria e melancólica, com os ossos maiores e crânios alinhados de maneira decorativa, atrás dos quais os esqueletos são depositados sem ordem.
Ele também coloca plaquetas com citações sobre a morte. Outras indicam de que cemitério eram as ossadas e as datas em que foram depositadas ali. E, por fim, há placas que mostram que no local estão sepultadas pessoas ilustres, como Rabelais, Robespierre, Molière e, ironia do destino, o próprio Thury, entre outros.
Desde o início do século XIX, as Catacumbas são locais de turismo. Elas já acolheram, inclusive, visitantes famosos, como o imperador austríaco, Francisco I, em 1814, e até Napoleão III, que levou o filho para passear ali em 1860.
Hoje, as Catacumbas de Paris detêm o título de maior necrópole do mundo, com seis milhões de ossadas. A cada ano, atraem milhares de visitantes dispostos a conhecer um pouquinho mais de um lado muito diferente da Cidade Luz.
O percurso é composto por 1,7 km de galerias a 20 metros de profundidade. Não há banheiros. É aconselhável levar um agasalho mesmo no verão, pois as temperaturas lá embaixo giram em torno de 14°C. É melhor ir de tênis, principalmente se chover, pois há algumas infiltrações e o lugar fica um pouco escorregadio. Um mapa é imprescindível, mas você pode pegar o seu na bilheteria. A visita dura, em média, 45 minutos. Mas, para quem gostar do assunto pode demorar mais. Como nos museus, é proibido tirar fotos com flash. Mas há funcionários munidos de lanternas para iluminar o local que você quiser fotografar. E, como tudo em Paris, prepare-se: pois pode haver filas na entrada.
Pontos Turísticos
A Galeria de Port-Mahón
É uma obra esculpida nas paredes das Catacumbas. O autor é um veterano do exército de Luis XV, um pedreiro chamado Décure. Ele talhou uma maquete da fortaleza de Mahón, a principal cidade de Menorca, nas Ilhas Baleares (Espanha), onde foi prisioneiro dos ingleses durante um bom tempo.
Lâmpada Sepulcral
É primeiro monumento erguido nas Catacumbas. É uma coluna com um vaso de formato antigo, onde uma chama permanecia acesa. Servia para velar os mortos, mas também como um antigo sistema de ventilação, já que por causa das ossadas o ar poderia tornar-se irrespirável.
Tumba de Gilbert
É uma obra em forma de um sarcófago, onde estão escritos os versos melancólicos do poeta Gilbert, morto em 1780 e que, no entanto, não está enterrado ali.
Revolta na fábrica de Réveillon, 28 de abril de 1789
Os mortos de alguns combates e revoltas da Revolução Francesa são enterrados diretamente nas Catacumbas. É o caso das vítimas da Revolta na fábrica de Réveillon e do Combate do Palácio de Tuilleries, este último ocorrido em agosto de 1792 e também marcado com uma placa no Ossuário.
É um pilar de sustentação coberto por crânios e tíbias e que possui a forma de um barril. Em 2 de abril de 1897, entre meia-noite e duas da manhã, foi celebrada ali uma festa macabra, em que participaram intelectuais, artistas e algumas pessoas da burguesia. O evento clandestino foi realizado graças à cumplicidade dos trabalhadores do local, despedidos assim que a festa foi descoberta.
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