Conto de Terror- A Última Ceia Natalina

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Conto de Terror- A Última Ceia Natalina


Os sinos natalinos tocavam alegremente. A árvore de pinheiros era verde reluzente; porém ainda não estava decorada. Na TV passava um desenho animado que também celebrava a data comemorativa.

O lugar aparentava estar vazio. As luzes iluminavam a sala de estar, e a trilha sonora natalina era alta o suficiente para cobrir certos sons. Certos e estranhos sons que vinham de um lugar não muito longe dali. Na verdade, há apenas alguns metros do lugar... Na cozinha.

Os gritos eram bloqueados pelo pano úmido de sangue que estava amarrado sobre a boca daquela vítima. A mulher estava em cima da mesa, totalmente presa por grossos cordões. O corpo nu estava totalmente exposto. Os seios, o umbigo e a vagina estavam totalmente feridos e o couro cabeludo havia sido arrancado brutalmente.

Simone, a vítima, arregalava os olhos e forçava a garganta para gritar com todas as suas forças. Porém, o único som que saia era um gemido totalmente abafado e angustiante de uma mulher judiada sem misericórdia, sem piedade...

Sem motivos.

De repente, os pés de alguém surgiram caminhando em direção à mulher. Aparentava ser de uma pessoa adulta, mais velha, idosa. Segurava um enorme facão de cozinha, vestia um avental branco – que já não estava tão branco assim – e possuía uma horrível aparência: O rosto era deformado e assustadoramente enrugado, a dentição era podre e apenas os caninos estavam inteiros, as sobrancelhas eram grossas.

Simone remexeu-se de agonia, tentando escapar, gritar, dizer algo... Mas estava impossibilitada.

– Xiiiiu... – sussurrou a velha, colocando o dedo entre a boca, fazendo o gesto para calá-la – Está quase na hora, amor...

E estava mesmo. Eram exatas onze e cinquenta e oito da noite. Os fogos começaram a iluminar o lado de fora da pequena, velha e pacata cabana localizada ao redor de um extenso matagal com apenas uma estrada de terra. Ao lado da casa, um carro de cor rosa com os quatro pneus furados e a parte da frente destruída: o carro de Simone.

Na cozinha, a senhora juntava as cadeiras ao redor da extensa mesa de jantar. Em alguns segundos, duas crianças surgiram animadas – uma menina e um menino –, perguntando aos gritos:

- VAMOS COMER, MÃE? VAMOS COMER?

- Claro, amores – a idosa respondeu sorridente e afiando a faca – Vamos comer daqui a pouquinho. Vamos esperar o pai de vocês chegar. Tudo bem?

As crianças assentiram.

Os sinos começaram a tocar na trilha sonora da TV.

O natal estava prestes a chegar.

Simone se rebatia fortemente, mas todos os seus atos eram em vão. A mulher, encarando-a sorridente, retirou com força o pano de sua boca. E então, Simone gritou:

– NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!! NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO! POR FAVOR, POR FAVOR, POR FAVOOORR... DEUS... POR QUE ESTÁ FAZENDO ISSO COMIGO, SENHORA?! POR QUÊ?! POR QUÊ?!

– É Natal, meu anjo... – a mulher disse suavemente, tocando o facão de leve no umbigo da vítima totalmente agoniada e desesperada.

– MÃE, MÃE, MÃE! EU QUERO A CABEÇA! – o menino gritou, entusiasmado e aparentemente faminto.

– Não, filho – a senhora respondeu – A cabeça nós iremos pendurar na árvore depois...

Os olhos de Simone cintilaram e ela sentiu vertigem. Começou a vomitar.

De repente, a mulher levantou o objeto pontiagudo, mirou nos seios da vítima e com toda a força apunhalou-a de forma certeira, aprofundando a faca, fazendo o sangue fluir daquele enorme buraco. O corpo de Simone começou a tremer. Os gritos eram altos e pediam por misericórdia de Deus, que aparentava não estar ali para salvá-la.

As crianças pulavam de alegria, esperando o sangue escorrer da mesa e cair ao chão para começarem a lamber.

– Não bebam tudo... – disse a idosa, enquanto apunhalava os seios da vítima – Depois faremos um belo panetone com o que sobrar do sangue dela.

As crianças se esfregavam no sujo solo embaixo da mesa, tocando o sangue e elevando as mãos a boca, lambendo como se fossem guloseimas. Ao mesmo tempo, um homem entrou ao local com um saco preto nas mãos. Um saco de plástico totalmente cheio... De corpos mutilados.

– AAAAAAARGH! – Simone gritava e vomitava ao mesmo tempo em que entrava em estado de choque e manifestava sintomas de convulsão. A baba escorria de sua boca e as lágrimas caiam de seus olhos vermelhos ardentes.

– Cheguei amor! – disse o homem, jogando o saco ao chão e abrindo-o: pernas, braços, órgãos, cabeças... Um a um os membros eram retirados e postos sobre a mesa ao lado do corpo quase sem vida de Simone.
A senhora parou de esfaquear, colocou a faca na pia e, logo após, retirou de um dos armários uma enorme e pesada marreta.

Os olhos vidrados de Simone observavam aquele objeto nas mãos da mulher que o ergueu e o socou fortemente em sua cabeça, fazendo os olhos incharem e esbugalharem-se com tamanho impacto, além de fazê-la morder a própria língua.

A mulher levantou novamente a marreta... E bateu. Ergueu e bateu. Ergueu e bateu várias vezes... Até que o crânio da vítima se abriu em uma gosma totalmente nojenta. O cérebro – aparentemente – começou a descer lentamente pelas laterais da cabeça.

O corpo ainda tinha espasmos, estremecendo aos poucos. Mas não havia mais escapatória e jeito: Simone estava morta.

– O jantar está servido! – a senhora gritou e todos aplaudiram com sorrisos.

Deu meia noite.

Os fogos de artifício subiram ao céu. Os animadores da TV desejavam o Feliz Natal, e aquela família rapidamente sentou-se diante daquela enorme mesa farta e cheia... Cheia de sangue, tripas, gosmas irreconhecíveis ao ser humano...

Era um banquete! O banquete do inferno.

Os garfos e facas estavam sobre as mãos de cada um. A mulher cravou o garfo na coxa, o homem cravou nos seios e as crianças perfuraram ambos os olhos. Logo após, elevaram aquela carne fresca à boca, mastigando de modo faminto e apressado aquela refeição.

– Mãe, me passa as tripas! – gritou o menino.


Dia 25 de Dezembro – Natal.

O dia estava nublado, mas bonito. A estrada de terra estava vazia, mas de longe podia-se avistar uma caminhonete vindo em ritmo lento, quase que parando automaticamente.

As árvores estavam da direita à esquerda, rodeando todo o lugar com puro verde denso. Em meio a toda aquela floresta misteriosa, havia uma pequena casa de tijolos com cercas de madeira.

O automóvel parou de repente.

– PORRA! – gritou César, o motorista, irritado pela situação.

Ele saiu do carro e observou os pneus: estavam perfurados por finos pregos deixados no meio da estrada. Ele olhou ao céu e questionou-se do porquê de tudo aquilo estar acontecendo exatamente no dia de Natal.
Ao olhar para a direita, avistou uma pequena residência cercada por pequenas madeiras. Logo, a ideia de pedir ajuda surgiu e ele foi em direção ao local.

Bateu palmas.

Ninguém apareceu.

Bateu novamente e, em seguida, uma mulher surgiu abrindo a porta...

– Posso ajudar moço? – ela perguntou.

– Acho que pode. Os pneus do meu carro estão furados e eu preciso telefonar ao meu seguro. Vocês teriam telefone?

O silêncio pairou sobre o lugar. A mulher aparentou estar pensativa. Ao seu lado, outro homem surgiu e cochichou em seu ouvido.

– Entre. Pode ligar! – a mulher disse com um sorriso estampado no rosto.

Dentro da residência, duas crianças – um menino e uma menina – corriam envolta da grande árvore de Natal totalmente decorada: braços e pernas estavam amarrados nos galhos, sangue ainda fresco escorria, misturando-se ao verde do pinheiro; várias cabeças estavam penduradas como se fossem globos de Natal. Entre as cabeças estava a de Simone, cujos olhos estavam abertos e vidrados.

As crianças, de repente, surgiram à porta, sorridentes e encarando o senhor que, agradecido e feliz, adentrou a casa sem imaginar o que encontraria nela.

A porta se fechou.


Feliz Natal.



Conto escrito por Valdir Luciano

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