Ruídos inovadores ajudaram a tornar "Os pássaros" um clássico do terror

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Ruídos inovadores ajudaram a tornar "Os pássaros" um clássico do terror


Há 50 anos, Alfred Hitchcock chocava as plateias do mundo com um insólito cenário de horror: ataques de pássaros. Mas não só as imagens angustiantes de corvos e gaivotas avançando sobre pessoas aterrorizaram o público – também o desagradável e estridente trinado das aves se fixou na memória coletiva dos fãs do mestre.

O filme tem uma história envolvente, com toques surpreendentes. Depois de um breve encontro numa loja de animais, Melanie Daniels viaja para a costa californiana atrás do advogado Mitch Brenner, que quer passar o fim de semana em Bodega Bay. Lá, Melanie é atacada e ferida por uma gaivota. Os ataques de pássaros se tornam cada vez mais frequentes e violentos, gerando uma primeira vítima fatal – por fim, o bando de pássaros aterroriza toda a cidade. Muitos moradores tentam fugir, outros se refugiam em suas casas.

Hitchcock conseguiu transformar aves inofensivas em diabólicas bestas assassinas. Para a sonoplastia do filme, a equipe do diretor ofereceu a ele apenas sons de pássaros gravados no jardim vizinho. "Sons como esses eu ouço todos os dias lá fora. Eu preciso de algo que assuste as pessoas!", esbravejou o mestre do suspense. Hitchcock queria usar a trilha sonora para sublinhar o papel dos pássaros no filme.

Ruidos estilizados e terriveis silêncios pontuam a obra-prima do suspense


Novo instrumento

Quando Hitchcock conheceu Remi Gassmann (um ex-aluno do compositor alemão Paul Hindemith), ele disse ao diretor que conhecia a pessoa certa para o trabalho: um ex-colega de Berlim, o músico experimental Oskar Sala. Hitchcock não pensou duas vezes. Para chegar ao resultado desejado, Sala apostou num instrumento inusitado, o trautônio. Inventado por Friedrich Trautwein, esse instrumento eletrônico, semelhante a um órgão, é considerado o precursor do sintetizador analógico.

Hitchcock conhecia o instrumento. Ele o ouvira no final dos anos 1920, na emissora de rádio Berliner Rundfunk. Com o trautônio, Sala criou todos os efeitos sonoros do filme: o grito das aves, elas batendo nas portas e janelas, até o som das pessoas martelando, no desespero de reforçar suas casas. Tudo foi elaborado em 1961, no pequeno estúdio de Sala no bairro de Charlottenburg, em Berlim.

Trilha sonora inovadora

Com a sonorização de Os pássaros, Hitchcock foi – mais uma vez – inovador. Ele renunciou a uma trilha sonora convencional para acompanhar as imagens. O mestre estava interessado em sons experimentais e eletrônicos. Em sintonia com a época, o diretor britânico queria incorporar as experimentações vanguardistas da chamada Nova Música.

"Nos anos 1960, a música dos filmes de terror deixa de lado ritmos periódicos e harmonias tradicionais. Ela se torna atonal, estridente e com uma rica dissonância", explica o musicólogo Frank Hentschel, da Universidade de Colônia. A melodia passa a desempenhar um papel secundário, e os ruídos ganham espaço.
"Os Pássaros" é considerado um dos melhores filmes de terror da história da sétima arte


Ruídos estilizados

"O fato de esse filme privilegiar os ruídos em detrimento da trilha sonora torna Os pássaros um caso particular na obra de Hitchcock", observa o musicólogo. Para o bater de asas e os trinados dos ataques dos pássaros, Hitchcock utilizou uma mistura de sons naturais e artificiais do trautônio.

Sala distorcia e estilizava o som dos pássaros, fazendo-o soar estranho e não natural, ameaçador e até mesmo agressivo. Os corvos e gaivotas de Hitchcock deliberadamente deveriam soar diabólicos.


Terrível silêncio

Só a cena final é mais assustadora e aterrorizante do que o estridente e alto som dos ataques dos pássaros. Nela, os protagonistas que sobreviveram à fúria das aves saem de suas casas, que já não oferecem nenhuma proteção. Diante deles, revela-se uma cena apocalíptica: bandos de pássaros ocupam a área, mas só ocasionalmente o silêncio é quebrado pelo som de um corvo ou de uma gaivota.

No fim de sua história de suspense, Hitchcock utiliza um silêncio que não é natural. Sem música ou ruídos, ele coloca uma imagem sinistra em primeiro plano. Nada afasta o espectador dessa imagem apocalíptica. Também ele é deixado sozinho e aterrorizado.

Trailer


Fonte: DW

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